O ‘iceberg do inferno’ que surgiu das profundezas do oceano

Imagine a cena: você está em um barco de pesca, no meio do Mar do Labrador, no Atlântico Norte. Ao seu redor, um cenário de uma beleza quase monótona: o cinza do mar se encontra com o branco infinito dos icebergs e da paisagem congelada. É uma rotina para o pescador Hallur Antoniussen, de 64 anos, que há décadas navega por essas águas.
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Mas, em um dia recente, algo quebrou essa monotonia de forma brutal. No horizonte, surgiu uma forma que não deveria existir ali. Uma aberração da natureza.
Era um iceberg, sim, mas não como qualquer outro. Ele era completamente negro, escuro como carvão, com o formato de um diamante bruto e sinistro. Um “monstro” de gelo que parecia ter emergido das profundezas mais escuras do oceano.
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A imagem, registrada por Hallur, viralizou instantaneamente nas redes sociais, gerando uma onda de espanto e especulações.
O que seria aquela formação bizarra? Um pedaço de uma ilha vulcânica? Um objeto de outro mundo? O pescador, em entrevista, resumiu o sentimento de todos: em décadas no mar, ele nunca tinha visto nada parecido.
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A ‘regra’ do gelo: por que todo iceberg deveria ser branco ou azul?
O espanto se justifica porque, em nossa mente, icebergs têm cores definidas. A cor mais comum é a branca, que acontece porque o gelo está cheio de pequenas bolhas de ar que espalham a luz do sol em todas as direções, como a neve.
Outra cor comum é o azul intenso, que aparece quando o gelo é muito antigo e denso, com pouquíssimas bolhas. Nesse caso, o gelo absorve as cores quentes (como o vermelho e o amarelo) e reflete apenas a luz azul. Mas e o preto? De onde veio o “iceberg do inferno”?
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O ‘DNA’ da escuridão: a sujeira de milênios presa no gelo
Segundo o glaciologista Lev Tarasov, da Memorial University, a explicação para o iceberg negro não é sobrenatural, mas é igualmente fascinante. A cor escura é, na verdade, o resultado de uma “sujeira” de milhares de anos que ficou presa dentro do gelo.
As geleiras, em seu movimento lento e brutal sobre a terra, funcionam como gigantescas lixas, raspando e arrastando tudo o que encontram pelo caminho. Esse material todo acaba sendo compactado e congelado junto com a neve. A cor preta, portanto, pode ter várias origens:
- Sedimentos e poeira de rocha: A causa mais provável. O gelo simplesmente carrega em seu interior uma quantidade enorme de terra e rochas escuras.
- Cinzas vulcânicas: Camadas de cinzas de erupções vulcânicas de milhares de anos atrás podem ter sido soterradas pela neve e congeladas, criando “faixas” pretas dentro do gelo.
- Fuligem da poluição: Em alguns casos, a poluição atmosférica pode se depositar sobre as geleiras, manchando o gelo com o tempo.
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O ‘arquivo’ de gelo: o que a cor de um iceberg nos conta sobre o passado
O mais incrível é que esse “iceberg do inferno” é, na verdade, um livro de história. A cor e os materiais presos no gelo contam aos cientistas segredos sobre o passado do nosso planeta. Já foram encontrados, por exemplo, icebergs verdes na Antártida, cuja cor vinha de óxidos de ferro do fundo do mar.
Assim, cada iceberg colorido é uma cápsula do tempo, um arquivo que revela informações sobre a geologia, o vulcanismo e até o clima de milênios atrás. Aquela visão assustadora e bela não era um mau presságio, mas sim uma página rara da longa e complexa história da Terra.
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