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Terra indígena Kayapó é invadida por grupos criminosos, afirma liderança.

Nas últimas duas semanas, o governo federal iniciou a desintrusão da Terra Indígena (TI) Kayapó, localizada no sul do Pará. Essa área é a mais afetada por garimpos ilegais na Amazônia, e a operação de retirada dos invasores resultou na destruição de maquinários pesados, como retroescavadeiras, dragas e balsas, além de estruturas utilizadas pelos garimpeiros. A Casa Civil planeja que as ações realizadas até agora causaram prejuízos de mais de R$ 12 milhões ao garimpo ilegal.

O-é Kaiapó Paiakan, coordenadora regional da Funai na TI Kayapó e uma das primeiras cacicas do povo Mebêngôkre, declarou que a desintrusão representa um avanço significativo para a recuperação do território. Ela, que tem 41 anos e foi nomeada em 2021, é filha de Paulinho Paiakan, um líder histórico na luta pela demarcação de terras indígenas e pelos direitos dos povos originários na Constituição de 1988.

Apesar do progresso, O-é Kaiapó destacou que a desintrusão por si só não resolverá os problemas de décadas quando as invasões foram incentivadas pelo próprio Estado. A TI Kayapó, com uma área de 3,2 milhões de hectares, abriga cerca de 6,3 mil indígenas dos povos Mebêngôkre e Isolados do Rio Fresco. Em 2024, essa terra sofreu gravemente com queimadas, e a coordenadora expressou preocupação com a presença de facções criminosas nas aldeias, ligadas ao garimpo ilegal.

A coordenadora teme as consequências da desintrusão, mencionando a TI Apyterewa, onde os Parakanã seguem enfrentando violência, mesmo dois anos após a retirada dos invasores. Recentemente, um indígena foi baleado nessa área.

O-é Kaiapó também defende a necessidade de políticas públicas que atendam às especificidades dos povos indígenas. Ela não solicita prioridade, mas apenas respeito aos direitos e à cultura indígena. Em entrevista, ela comentou sobre o impacto positivo que a desintrusão pode ter no futuro dos Mebêngôkre, apesar dos desafios.

Ela apontou a urgência de fortalecer políticas públicas em educação e saúde, destacando que as escolas precisam oferecer infraestrutura de qualidade e materiais didáticos na língua dos Kayapó. O atendimento na saúde deve ser humanizado e respeitar a cultura indígena. Além disso, é necessário incluir os povos indígenas em programas sociais, destacando que o Bolsa Família é o principal programa, mas muitos outros precisam ser acessíveis a essa população.

O-é Kaiapó percebe a invasão de terras indígenas como uma responsabilidade do Estado, uma prática que se intensificou na década de 1980. As consequências têm sido devastadoras, com desmatamento e degradação ambiental, além de atividades ilegais que impactam a vida social. Ela mencionou que facções criminosas estão envolvidas com o garimpo, trazendo problemas como o consumo de drogas e a prostituição, afetando negativamente a juventude indígena.

Sobre a resposta da desintrusão, a coordenadora acredita que é um primeiro passo, mas não uma solução definitiva. Para este ano, a TI Kayapó se depara com o desafio das queimadas, que comprometeram áreas de caça e agricultura, afetando a subsistência dos indígenas.

Quanto à sua segurança, O-é Kaiapó expressou preocupações, especialmente em relação à sua família e à sua posição como liderança diante dos garimpeiros e madeireiros. Ela está em busca de apoio do Estado para garantir sua segurança, já que há um histórico de retaliações de grupos afetados pela desintrusão.

A coordenadora finalizou enfatizando a necessidade de um compromisso político com os direitos dos povos indígenas e a implementação de políticas que promovam um futuro sustentável para a comunidade Kayapó.

Editorial Noroeste

Conteúdo elaborado pela equipe do Folha do Noroeste, portal dedicado a trazer notícias e análises abrangentes do Noroeste brasileiro.

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