Sabesp reduz pressão d’água em periferias; especialistas sugerem soluções

A Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo (Sabesp) anunciou a ampliação do tempo de redução da pressão da água na Região Metropolitana de São Paulo, de oito para dez horas. A mudança começa a valer nesta segunda-feira (22), devido à baixa nos níveis dos reservatórios e à falta de chuvas.
Desde o dia 27 de agosto, a pressão da água já vinha sendo reduzida das 21h às 5h. Agora, essa redução acontece das 19h às 5h, seguindo uma recomendação da Agência Reguladora de Serviços Públicos do Estado de São Paulo (Arsesp). O governo estadual informou que essa ação já conseguiu economizar o equivalente a quatro metros cúbicos de água por segundo, o que é suficiente para abastecer mais de 800 mil pessoas por um mês. Apesar de a medida ter ajudado a evitar uma diminuição maior nos mananciais, o cenário das chuvas ainda preocupa.
A Sabesp, que passou a ser privatizada em julho, explicou que essa redução de pressão é temporária e serve para prevenir vazamentos e preservar a água nos reservatórios da região. A companhia também alertou que durante a noite pode haver falta de água, mas que o abastecimento deve ser normalizado pela manhã.
Impactos na População
Amauri Pollachi, representante do Observatório Nacional dos Direitos à Água e ao Saneamento e do Comitê da Bacia Hidrográfica do Alto Tietê, afirma que a redução da pressão impacta mais fortemente as áreas periféricas, que já enfrentam problemas com abastecimento. Ele destaca que, em regiões altas, muitas moradias podem não receber água, e a situação pode levar os moradores a ficar sem água durante todo o dia.
Pollachi observa que a falta de água atinge principalmente as pessoas que vivem em bairros mais carentes, onde a infraestrutura é insuficiente. Em contraste, moradores de áreas como Pinheiros ou Vila Madalena, que possuem grandes caixas d’água, conseguem armazenar água por mais tempo. Conclui que a realidade da periferia é alarmante, pois muitos saem para trabalhar sem água e voltam para casa sem abastecimento.
Além disso, a redução da pressão pode aumentar o risco de contaminação da água. Quando a pressão cai, a água tratada não consegue evitar que esgoto entre na rede. Isso significa que, ao reestabelecer o abastecimento, a água que chega às casas pode não ser totalmente potável.
Pollachi critica a privatização da Sabesp, afirmando que isso dificultou o controle sanitário do sistema de abastecimento. Ele ressalta que o número de funcionários da empresa caiu significativamente e, com isso, a experiência e o conhecimento na operação dos serviços também diminuíram.
Alternativas e Medidas de Conservação
Desde 2014, o governo já adotou a redução da pressão em resposta a crises hídricas. As represas na Grande São Paulo dependem principalmente das chuvas do período entre outubro e março para garantir o abastecimento. Com a baixa de chuvas nos últimos verões, os reservatórios registraram perdas progressivas, criando um cenário preocupante.
Pollachi sugere que, ao invés de aumentar o tempo de redução da pressão, o governo deveria focar em medidas de conscientização e incentivo à redução do consumo de água. Durante a crise hídrica de 2014, os que diminuíram o consumo receberam descontos na tarifa, e essa estratégia foi eficaz para economizar água.
Rene Vicente, do Sindicato dos Trabalhadores em Água, Esgoto e Meio Ambiente, também enfatiza a necessidade de campanhas de uso racional de água, voltadas tanto para a população quanto para grandes consumidores, como indústrias e centros comerciais. O relatório “Conjuntura dos Recursos Hídricos” destaca que a irrigação consome a maior parte da água no país, seguido pelo abastecimento urbano.
Vicente defende um olhar crítico sobre o uso da água e cobra responsabilidades das grandes indústrias que poluem os mananciais. Ele acredita que um investimento intensificado no saneamento básico e na limpeza dos rios também é crucial para a melhoria da qualidade da água.
A Sabesp foi questionada sobre as preocupações levantadas e afirmou que a ampliação da redução de pressão era uma orientação da Arsesp. Também destacou que a medida é temporária e visa conservar os mananciais e que as moradias com caixas d’água adequadas não devem ser afetadas. Além disso, a companhia informou que, desde agosto, já economizou 7,26 bilhões de litros de água, ajudando a evitar crises mais sérias no abastecimento.