Bangladesh avalia acordos com empresários acusados de evasão fiscal

Governo de Bangladesh Planeja Recuperar Bilhões em Ativos de Ex-membros do Regime de Sheikh Hasina
O governo interino de Bangladesh, liderado por Muhammad Yunus, está tomando medidas para recuperar ativos de empresários acusados de desvio de grandes quantias de dinheiro do país durante o governo anterior de Sheikh Hasina. O banco central do país, sob a liderança do governador Ahsan Mansur, considera a possibilidade de acordos financeiros como uma alternativa para lidar com casos menos graves.
Mansur explicou que seu objetivo é reunir até US$ 100 milhões para financiar ações judiciais internacionais com o intuito de reaver os recursos que teriam sido retirados por figuras ligadas ao regime de Hasina, que foi destituído em um levante estudantil em agosto do ano passado. O governo interino afirma que várias pessoas associadas ao antigo governo tiraram do Bangladesh bilhões de dólares.
Em entrevistas realizadas em Dhaka, Mansur destacou que a estratégia do Banco de Bangladesh dependerá da gravidade das violações. "Se as infrações forem mais leves, optaremos por ações cíveis, e um acordo financeiro pode fazer parte desse processo", afirmou, sem fornecer exemplos específicos de possíveis alvos.
O governo de Yunus, que foi agraciado com o Prêmio Nobel da Paz, iniciou 11 investigações prioritárias relacionadas a famílias que tinham conexões políticas, incluindo a de Sheikh Hasina. Além disso, algumas contas bancárias no país foram congeladas e há cooperação com agências de segurança de outros países para reaver os ativos que supostamente foram removidos durante os 15 anos de governo de Hasina.
Durante uma visita a Londres, Yunus pediu um apoio mais ativo das autoridades britânicas para localizar e recuperar esses recursos, afirmando que se tratam de "dinheiro roubado". Para ele, o governo do Reino Unido tem a obrigação legal e moral de ajudar nesse processo.
Um relatório econômico encomendado pelo governo e publicado em dezembro estimou que cerca de US$ 234 bilhões foram desviados do país durante o governo de Hasina. Mansur, ex-funcionário do Fundo Monetário Internacional, e outros líderes do governo interino alegam que aliados da ex-primeira-ministra obtiveram verbas fraudulentas de empréstimos, após assumir o controle de bancos, ou desviaram dinheiro de projetos de infraestrutura do governo.
A Awami League, partido de Hasina, foi formalmente banido pelo governo de Yunus no mês passado. Seus apoiadores acusam a nova administração de estar conduzindo uma caça às bruxas contra supostos corruptos do antigo regime.
Yunus anunciou que uma nova eleição nacional deve ser realizada em abril do próximo ano para eleger um novo governo. Mansur também revelou que sua equipe está em contato com empresas de financiamento de litígios, convidando-as para Bangladesh para auxiliar na recuperação de ativos. Essas empresas costumam arcar com os custos de processos judiciais civis, inclusive honorários advocatícios, em troca de uma parte de eventuais acordos ou recompensas judiciais.
Mansur mencionou que a resposta das empresas de financiamento tem sido positiva. A Omni Bridgeway, uma empresa de Sydney, realizou visitas a Dhaka e discutiu com Mansur e gerentes seniores em pelo menos 16 bancos, expressando interesse em apoiar a recuperação de empréstimos inadimplentes, especialmente aqueles relacionados a transferências ilícitas de recursos para fora do país.