Você chama isso de cansaço, mas é outra coisa

A cena é um retrato da vida moderna. Você acorda e a primeira sensação é a de que um caminhão passou por cima de você. O botão de soneca do celular se torna seu melhor amigo. A ideia de levantar, tomar um banho e encarar mais um dia de trabalho parece uma tarefa sobre-humana. “É só o estresse”, você diz a si mesmo. “Estou apenas cansado”.
Nós nos acostumamos a romantizar a exaustão. A cultura do “trabalhe enquanto eles dormem” nos fez acreditar que estar no limite é um sinal de produtividade e de sucesso. Um cansaço profundo, que não vai embora nem com o sono do fim de semana, virou a nova normalidade, um preço que pagamos para sermos profissionais dedicados.
Mas, e se eu te dissesse que esse cansaço extremo não é normal? E se ele for, na verdade, um grito de socorro do seu organismo?
Um sinal de que seu cérebro e seu corpo, em um ato de autopreservação, decidiram “pedir demissão” do seu trabalho, mesmo que você continue, fisicamente, batendo o ponto todos os dias.
Essa “demissão” interna tem nome, é reconhecida como uma doença ocupacional pela Organização Mundial da Saúde (OMS) e afeta 1 em cada 3 brasileiros: a Síndrome de Burnout.
O ‘diagnóstico’ do burnout: os 3 sintomas que vão além do cansaço
O burnout é muito mais do que estar cansado. É um estado de esgotamento total, que pode ser identificado por uma combinação de três dimensões de sintomas. Veja se você se reconhece:
- Exaustão Total: Não é o cansaço que melhora depois de uma noite de sono ou de um feriado. É uma exaustão física e mental tão profunda que, como descreve a psicóloga Ana Maria Rossi, “sair da cama, tomar um banho, colocar uma roupa, são atividades que demandam um esforço sobrenatural”.
- Distanciamento e Cinismo: Você começa a se sentir emocionalmente distante do seu trabalho. Aquela tarefa que antes te dava prazer, agora gera apatia, irritação e um sentimento de “tanto faz”. Você se torna cínico em relação à sua profissão e aos seus colegas.
- Sensação de Ineficácia: Mesmo que você trabalhe mais horas, sua produtividade despenca. Você se sente incompetente, incapaz de realizar as tarefas que antes fazia com facilidade, e sua autoestima profissional desaba.
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Mas isso não é depressão? A diferença crucial que a OMS aponta
Muitas pessoas confundem os sintomas, mas a diferença entre burnout e depressão é crucial. A depressão é uma doença que afeta todas as áreas da sua vida.
O burnout, por outro lado, está exclusivamente ligado ao ambiente de trabalho. Um teste simples que os especialistas usam é o “teste das férias”.
Se você tira uma ou duas semanas de férias e, longe do trabalho, começa a se sentir significativamente melhor, mais leve e mais como “você mesmo”, é um sinal fortíssimo de que o problema é burnout, e não uma depressão clínica.
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O ‘antídoto’: como tratar (e prevenir) o colapso no trabalho
O tratamento para o burnout não é simplesmente “descansar mais”, pois a exaustão é apenas um dos sintomas. A cura envolve uma mudança de mentalidade e de hábitos, tanto por parte do indivíduo quanto da empresa.
- A Responsabilidade da Empresa: Com o reconhecimento da OMS, as empresas no Brasil agora são legalmente obrigadas a criar políticas para prevenir o burnout, como controlar jornadas excessivas e combater o assédio moral.
- Sua Responsabilidade (O Autocuidado):
- Estabeleça Limites: Aprenda a dizer “não”. Desligue o celular do trabalho fora do seu horário. Respeite seus momentos de descanso como se fossem a reunião mais importante do seu dia.
- Busque Ajuda Profissional: A psicoterapia é fundamental para entender os gatilhos do estresse e desenvolver ferramentas para lidar com eles. Em casos mais graves, um psiquiatra pode indicar o uso de medicação.
- Crie Válvulas de Escape: Tenha momentos de lazer que não envolvam telas ou produtividade. Pratique um hobby, encontre amigos, faça exercícios leves. Sua mente precisa de um “recreio” para não entrar em colapso.