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A capital brasileira onde 1 a cada 20 vive de dinheiro do governo

Em Fortaleza, capital do Ceará, uma realidade alarmante e silenciosa se desenha: a cada 20 pessoas que andam pelas ruas, uma delas depende de um salário mínimo do governo para sobreviver. Não se trata de aposentadoria ou de um benefício temporário, mas sim do Benefício de Prestação Continuada (BPC), um auxílio vital para idosos e pessoas com deficiência em condição de miséria.

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A cidade se tornou um retrato da dependência social no Brasil.

Com 134,8 mil beneficiários, Fortaleza é a terceira capital do país com o maior número absoluto de pessoas recebendo o BPC, ficando atrás apenas das gigantes São Paulo e Rio de Janeiro. Contudo, o dado mais chocante é o proporcional: 5,5% de toda a população da cidade vive do benefício.

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É a maior porcentagem entre todas as capitais, um número que expõe uma ferida social profunda e, ao mesmo tempo, acende um alerta vermelho para o futuro das contas públicas.

Enquanto o BPC funciona como um escudo essencial contra a pobreza extrema em um dos estados mais vulneráveis do país, seu crescimento explosivo se transformou em uma bomba-relógio fiscal.

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Especialistas alertam que, no ritmo atual, o programa é insustentável. Mas o que explica essa dependência massiva e qual é o futuro de um benefício que, ao mesmo tempo que salva vidas, ameaça quebrar o país?

Os números que chocam: o mapa da dependência no Ceará

A situação de Fortaleza é o epicentro de um fenômeno que se espalha por todo o Ceará. O estado é um dos que mais recebem recursos do BPC, com mais de R$ 623 milhões transferidos apenas neste ano para mais de 410 mil pessoas.

O ranking das cidades cearenses com mais beneficiários revela a dimensão do desafio:

  • Fortaleza: 134,8 mil
  • Juazeiro do Norte: 17,3 mil
  • Caucaia: 16,1 mil
  • Maracanaú: 12,8 mil
  • Sobral: 11,2 mil

Esses números não são apenas estatísticas; eles representam vidas que dependem integralmente do Estado para ter o mínimo de dignidade, em uma região marcada por baixos salários e alta vulnerabilidade social.

Veja mais: Cinco condenados por fraude do INSS em Manaus

Por que tantos precisam do BPC? A raiz do problema

O crescimento do BPC no Ceará não é um mistério. Ele é um reflexo direto das condições socioeconômicas do estado.

Segundo especialistas como o professor João Mário de França, da UFC, a combinação de pobreza estrutural, baixos rendimentos e um mercado de trabalho informal empurra uma parcela significativa da população para a elegibilidade do benefício.

Para ter direito ao BPC, a renda por pessoa da família deve ser inferior a 1/4 do salário mínimo (cerca de R$ 379,50).

As recentes mudanças nas regras, que tornaram o acesso mais claro, e o envelhecimento da população também contribuíram para um aumento de mais de 50% no número de beneficiários nos últimos dois anos, segundo a Pnad Contínua.

Veja mais: A salvação de R$ 1.518: dois grupos recebem BPC/ INSS com data exata em julho

A bomba-relógio fiscal: um futuro insustentável

Aqui mora o perigo. O mesmo benefício que reduz a desigualdade e movimenta a economia local, como aponta o diretor da FGV Social, Marcelo Néri, cresce em um ritmo insustentável.

As projeções são aterrorizantes: o custo do BPC, que hoje já é gigantesco, pode se multiplicar por onze até 2060, atingindo a cifra de R$ 1,5 trilhão.

O desafio do governo é gigantesco: como continuar amparando quem mais precisa sem comprometer o futuro fiscal do país? Encontrar o equilíbrio entre a responsabilidade social e a sustentabilidade das contas públicas é a encruzilhada que definirá o destino de milhões de brasileiros e do próprio Brasil.

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Rodrigo Campos

Jornalista, pós-graduado em Comunicação e Semiótica, graduando em Letras. Já atuou como repórter, apresentador, editor e âncora em vários veículos de comunicação, além de trabalhar como redator e editor de conteúdo Web.

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