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Entregadores e luta de classes: análise de Ricardo Antunes

Na Festa Literária Pirata das Editoras Independentes (Flipei), realizada em São Paulo, o sociólogo Ricardo Antunes, conhecido por seu trabalho na área de Sociologia do Trabalho, levantou preocupações sobre a situação atual do trabalho no país. Ele afirmou que estamos enfrentando um cenário alarmante, onde a indústria de plataformas e e-commerce se destaca, representando uma forma de “escravidão moderna e digital”. Antunes também ressaltou que a luta de classes está longe de ter terminado, citando a mobilização dos entregadores de aplicativos como um exemplo claro disso.

Na terça-feira, 5 de setembro, entregadores de aplicativo organizaram um protesto em frente ao evento “iFood Move”, que contava com ingressos de mil reais e reunia empresários da área de alimentação. Durante a manifestação, os entregadores realizaram uma motociata e até um churrasco, chamando a atenção para as condições de trabalho que enfrentam, incluindo a exigência de uma taxa mínima de R$ 10 por cada corrida.

Recentemente, a categoria havia realizado um “breque nacional”, com paralisações em mais de 70 cidades, onde milhares de motoboys se mobilizaram. Um dos atos emblemáticos ocorreu na véspera do Dia da Mentira, quando entregadores se dirigiram à sede do iFood em Osasco, São Paulo.

O debate na Flipei contou também com a participação da historiadora e rapper Preta Rara, que é autora do livro “Eu, empregada doméstica”, e do entregador JR Freitas, membro da Aliança Nacional dos Entregadores de Aplicativos (Anea). JR destacou que, mesmo sem o apoio de sindicatos, a mobilização dos entregadores vem ocorrendo através de grupos de WhatsApp, onde eles compartilham suas angústias e anseios, buscando entender seus sentimentos sobre questões como liberdade e a recusa de se submeter a um patrão.

Em suas considerações, JR Freitas mencionou que, em média, sete motociclistas morrem por dia no país, baseado em dados da Associação Brasileira de Medicina de Tráfego (Abramet). Ele lamentou o desprezo pela segurança desses trabalhadores, muitas vezes provenientes de classes sociais mais baixas.

Preta Rara compartilhou sua trajetória pessoal, relatando que também trabalhou como empregada doméstica por sete anos. Ela destacou a herança da profissão entre mulheres negras no Brasil e a falta de direitos básicos que afetam essas trabalhadoras, ilustrando com a necessidade de uma lei para garantir janelas em seus quartos de serviço.

A Flipei, que teve que mudar de local devido a tentativas de censura da prefeitura, ocorreu no Galpão Elza Soares, um espaço vinculado a movimentos sociais. O evento se estenderá até o dia 10 de setembro, promovendo debates relevantes sobre a realidade do trabalho e a resistência de trabalhadores no país.

Editorial Noroeste

Conteúdo elaborado pela equipe do Folha do Noroeste, portal dedicado a trazer notícias e análises abrangentes do Noroeste brasileiro.

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