Diabetes encontra cura em novo medicamento

Viver com diabetes tipo 1 é como estar em uma prisão de segurança máxima dentro do próprio corpo. É uma rotina de vigilância perpétua: as picadas no dedo para medir a glicose, o cálculo cuidadoso de cada carboidrato, as múltiplas injeções diárias de insulina. É uma batalha constante para manter o equilíbrio, onde um pequeno erro pode levar a consequências graves.
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Por décadas, a ciência médica ofereceu aos pacientes ferramentas cada vez melhores para “gerenciar” essa prisão. Bombas de insulina, sensores contínuos de glicose… tecnologias que tornaram a vida mais fácil, sim.
Mas nunca ofereceram a chave da cela. A cura, a verdadeira liberdade, sempre pareceu um sonho distante, uma promessa da ficção científica.
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Mas, e se eu te dissesse que, depois de anos de pesquisa, um grupo de cientistas finalmente encontrou essa chave? E se, com uma única infusão, eles tivessem conseguido não apenas tratar, mas efetivamente curar pacientes com a forma mais grave de diabetes tipo 1?
Não é ficção. A notícia é real, foi publicada em um dos jornais médicos mais respeitados do mundo, e está sendo chamada de o começo do fim para o diabetes.
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O ‘milagre’ do zimislecel: a fábrica de insulina que vem da célula-tronco
A “mágica” por trás dessa revolução tem um nome: zimislecel. Trata-se de um tratamento experimental, desenvolvido pela empresa americana Vertex Pharmaceuticals, que é fruto de mais de 25 anos de pesquisa. A ideia é genial em sua essência:
- Os cientistas pegam células-tronco em laboratório.
- Através de um coquetel químico, eles conseguem transformar essas células-tronco em células das ilhotas pancreáticas — as exatas células produtoras de insulina que o sistema imunológico de um paciente com diabetes tipo 1 destruiu.
- Essa nova “fábrica” de insulina é, então, infundida no corpo do paciente através de uma única aplicação.
A esperança era que essas novas células se instalassem no pâncreas e começassem a produzir insulina naturalmente, como fariam em uma pessoa saudável.
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O resultado que chocou o mundo: 10 de 12 pacientes ‘curados’
Os resultados do estudo, apresentados no congresso da Associação Americana de Diabetes e publicados no The New England Journal of Medicine, foram muito além da esperança. Foram espetaculares.
O estudo foi realizado com 12 pacientes que tinham a forma mais perigosa da doença, aquela em que a pessoa não sente os sinais de hipoglicemia.
- Um ano depois de receberem a infusão única do zimislecel, impressionantes 10 dos 12 pacientes não precisavam mais de nenhuma injeção de insulina. Seus corpos voltaram a controlar o açúcar no sangue sozinhos.
- Os outros dois pacientes não alcançaram a cura total, mas conseguiram reduzir drasticamente a quantidade de insulina que precisavam aplicar.
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Mas nem tudo é perfeito: o ‘pedágio’ da imunossupressão
Apesar do resultado milagroso, o tratamento ainda tem um grande “mas”, um “pedágio” que os pacientes precisam pagar. Como as células-tronco infundidas não são do próprio paciente, o sistema imunológico as vê como um corpo estranho e tenta atacá-las.
Para evitar essa rejeição, os pacientes precisam tomar remédios imunossupressores para o resto da vida. Esses medicamentos, embora eficazes, deixam o corpo mais vulnerável a infecções e, a longo prazo, podem aumentar o risco de outros problemas de saúde, como o câncer.
Hoje, o tratamento é uma balança: de um lado, a liberdade da prisão do diabetes; do outro, a prisão dos remédios imunossupressores. Para pacientes com a forma mais grave da doença, essa troca já é uma vitória imensa.
A grande esperança da ciência, agora, é conseguir aperfeiçoar a técnica para, no futuro, eliminar essa última barreira. Mas o primeiro passo, e talvez o mais importante, foi dado. A “sentença de morte” do diabetes tipo 1, pela primeira vez na história, parece ter sido decretada.
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