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A nova barreira da CNH: autoridades discutem se melhora ou piora o processo

O Brasil está à beira de aprovar uma medida que pode mudar — para sempre — o processo de tirar a primeira habilitação. Mas, enquanto o discurso oficial gira em torno da segurança no trânsito, especialistas de várias áreas levantam um alerta que muitos preferem ignorar: e se o exame toxicológico na 1ª CNH for caro, ineficaz e até inútil?

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O Projeto de Lei 3965/21, que obriga o teste para candidatos das categorias A e B, já passou na Câmara dos Deputados. Mas a proposta, que parece certeira à primeira vista, pode esconder mais problemas do que soluções.

Sim, o objetivo é nobre. Mas será que, na prática, faz sentido? Afinal, o que de fato está por trás dessa exigência?

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Medida preventiva ou gasto sem retorno?

Segundo o professor David Duarte Lima, especialista em segurança viária, o exame toxicológico aplicado antes da CNH não reduz acidentes. O motivo? O teste analisa o consumo de substâncias nos últimos 90 dias, ou seja, antes de o candidato sequer dirigir.

“O risco maior entre os novatos não é o uso de drogas, mas a falta de experiência”, afirma.

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Além disso, o custo pesa. Com 2,7 milhões de novas CNHs emitidas por ano, o impacto financeiro pode ultrapassar R$ 400 milhões, pagos pelo próprio cidadão. Recursos que, segundo Lima, alimentam laboratórios privados e não retornam em educação no trânsito.

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Do outro lado, um argumento de saúde pública

Para o Dr. Alysson Coimbra, diretor da ABRAMET, a lógica é outra: o exame funciona como um filtro ético. Em vez de punir, ele sinaliza padrões perigosos de consumo, incompatíveis com a responsabilidade de dirigir.

“O toxicológico não detecta só o uso ocasional, mas o uso contínuo. Isso permite uma análise mais profunda do comportamento do candidato.”

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Ele admite que o custo pode ser alto, mas vê isso como resposta à omissão do Estado em políticas efetivas de combate às drogas no trânsito.

O que falta: uma política séria e integrada

Apesar da divergência de opiniões, especialistas concordam em algo essencial: medidas isoladas não bastam.

O Brasil precisa de um pacote robusto de ações, que vá além de exames pontuais. Entre as principais recomendações, estão:

  • Campanhas educativas permanentes nas escolas e mídias;
  • Formação mais rigorosa de condutores nas autoescolas;
  • Fiscalização ativa e ininterrupta, principalmente da Lei Seca;
  • Uso inteligente do drogômetro, que detecta uso recente de substâncias.

No fim, o buraco é mais embaixo

A discussão vai além da eficácia do exame. Ela escancara o quanto ainda estamos longe de um pacto social sério sobre o trânsito.

Mais do que exigir um teste caro e polêmico, o Brasil precisa olhar para a raiz do problema: a imprudência, a banalização das drogas e a ausência de políticas que realmente façam a diferença na formação dos novos motoristas.

Porque uma lei só funciona quando ela faz sentido na prática. E, nesse caso, a dúvida ainda continua no ar.

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Rodrigo Campos

Jornalista, pós-graduado em Comunicação e Semiótica, graduando em Letras. Já atuou como repórter, apresentador, editor e âncora em vários veículos de comunicação, além de trabalhar como redator e editor de conteúdo Web.

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