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Decisão do Detran: “caneta” dará CNH a quem não sabe ler

Imagine um cidadão brasileiro, um trabalhador, talvez com 40 ou 50 anos, que dirige há décadas. Ele conhece cada rua do seu bairro, sabe como o motor do seu carro ou moto responde e tem uma experiência prática no trânsito que muitos recém-habilitados não possuem.

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Ele é, para todos os efeitos, um motorista. Mas, perante a lei, ele vive na clandestinidade, sempre com o medo de ser parado em uma blitz e perder seu veículo, seu ganha-pão.

O que o impede de ter uma Carteira Nacional de Habilitação (CNH) não é a falta de habilidade ao volante. A barreira que o separa da legalidade é outra, uma muralha muitas vezes invisível para a maioria de nós: as letras.

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O exame teórico do Detran, com suas perguntas técnicas e alternativas, é um obstáculo intransponível para milhões de brasileiros que, por diversas razões, não foram alfabetizados.

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Mas, e se eu te dissesse que um estado brasileiro decidiu quebrar essa lógica e enfrentar essa injustiça histórica de frente? Uma iniciativa pioneira, quase inacreditável, foi aprovada, e ela não visa facilitar a prova ou baixar o nível de exigência.

Pelo contrário, ela propõe algo muito mais poderoso: dar a essas pessoas a ferramenta para que elas mesmas derrubem essa muralha, letra por letra.

ABCDetran: a revolução que começa na sala de aula

O nome do programa que promete mudar essa realidade no Ceará é ABCDetran. Fruto de uma parceria entre o Departamento Estadual de Trânsito (Detran-CE) e a Secretaria da Educação (Seduc), a iniciativa é uma expansão de outra política pública de sucesso, a CNH Popular, que já entregou mais de 183 mil habilitações gratuitas no estado.

O ABCDetran vai além: ele vai capacitar cidadãos não alfabetizados para que eles possam, finalmente, ter a chance de conquistar a sua CNH. Um projeto-piloto de sucesso já foi realizado em 2022, provando que a ideia funciona.

Veja mais: CNH anula demissão de funcionário; veja como

Como a “caneta” vai entregar a CNH na prática

O programa não é uma fórmula mágica, mas um processo estruturado e totalmente gratuito para o candidato (geralmente beneficiários do Bolsa Família). Ele funciona em um passo a passo transformador:

  1. Aulas de Letramento: Antes de qualquer prova, o candidato passa por um curso de 81 horas/aula. Nele, professores pagos pela Seduc ensinam não apenas a ler e a escrever, mas focam em um letramento direcionado para o trânsito, familiarizando o aluno com as palavras e os conceitos que ele encontrará na prova.
  2. Prova Teórica Padrão: Após a capacitação, o aluno está apto para realizar o mesmo exame teórico aplicado a todos os outros candidatos, mas agora com a confiança de que entende as perguntas.
  3. Aulas Práticas e Exame: Uma vez aprovado na teoria, o processo segue o fluxo normal: aulas práticas em uma autoescola e, por fim, o exame de direção no Detran.

Veja mais: Moto sem CNH: quanto custa uma belezinha assim

Mais que uma carteira, um resgate da cidadania

Essa iniciativa, pioneira no Brasil, é muito mais do que apenas um programa para emitir carteiras de motorista. Para os participantes, representa a chance de conseguir empregos melhores, de se deslocar com segurança e, acima de tudo, de ter sua dignidade e cidadania reconhecidas.

Para a sociedade, significa tirar da informalidade milhares de motoristas, que agora passarão por todo o processo de formação e avaliação, contribuindo para um trânsito mais seguro para todos. É a prova de que a educação, de fato, é o melhor caminho para conduzir o futuro.

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Rodrigo Campos

Jornalista, pós-graduado em Comunicação e Semiótica, graduando em Letras. Já atuou como repórter, apresentador, editor e âncora em vários veículos de comunicação, além de trabalhar como redator e editor de conteúdo Web.

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