Peru e Colômbia disputam ilha no rio Amazonas; entenda por quê.

Disputa Diplomática Entre Peru e Colômbia Por Ilha na Tríplice Fronteira
Uma disputa crescente tem se desenrolado entre Peru e Colômbia sobre a ilha de Santa Rosa, situada na tríplice fronteira com o Brasil. O conflito, que se intensificou em 2024, envolve não apenas questões de soberania territorial, mas também preocupações relacionadas às mudanças climáticas e interesses econômicos na região amazônica.
Contexto da Disputa
Santa Rosa, uma pequena ilha no rio Amazonas, tornou-se um ponto central de controvérsia que combina aspectos geográficos, históricos e econômicos. Nos últimos anos, a redução do fluxo do rio, decorrente do aquecimento global, mudou o cenário da área, aproximando a ilha da Colômbia, mais especificamente da cidade de Letícia, conhecida por ser um importante polo comercial. O Peru, por sua vez, reivindica a ilha como parte de seu território, oficializando essa posição em junho de 2024, quando a considerou parte da província de Loreto.
O presidente colombiano, Gustavo Petro, acusou o Peru de tentar tomar posse de um território que, segundo ele, pertence à Colômbia. Em uma publicação em uma rede social, ele afirmou que a ocupação peruana compromete o futuro comercial de Letícia, que depende do acesso ao rio para manter sua relevância como porto na Amazônia. Petro também mencionou a violação de tratados de fronteira, como o Tratado de Salomón-Lozano de 1922, que garantiu à Colômbia o acesso ao rio.
Em resposta, o ministro das Relações Exteriores do Peru, Elmer Schialer, reafirmou que Santa Rosa sempre foi parte do Peru, negando ter invadido qualquer território colombiano. Ele argumentou que a ilha é uma extensão da formação geográfica chamada Chinería, já reconhecida na época do tratado, e destacou que aproximadamente 2.500 peruanos vivem na região, em boa convivência com colombianos e brasileiros.
Importância da Ilha
A disputa por Santa Rosa envolve questões além da mera territorialidade. Para a Colômbia, o controle da ilha é crucial para garantir que Letícia permaneça um centro comercial ativo na Amazônia, especialmente diante das mudanças no fluxo do rio que ameaçam isolar a cidade. Estudos indicam que essas alterações podem prejudicar a economia local, e Petro ressaltou que, sem acesso ao rio, Letícia corre o risco de deixar de ser um porto estratégico.
Por outro lado, o Peru considera a posse da ilha um aspecto fundamental para a sua soberania. Em julho de 2024, o Congresso peruano aprovou uma legislação que formalizou Santa Rosa como distrito da província de Loreto, uma iniciativa que visa consolidar a presença do Estado na região e reafirmar a soberania peruana.
Esse aumento das tensões levou o presidente colombiano a transferir as comemorações do Dia da Independência, um evento simbólico, de Bogotá para Letícia, reforçando a importância da ilha e do acesso ao rio para a história e a economia colombianas.
Fronteiras em Mudança
A raiz desse conflito remonta à definição da tríplice fronteira entre Brasil, Peru e Colômbia, que foi estabelecida há mais de um século, baseada no curso mais profundo do rio Amazonas. Entretanto, as mudanças climáticas têm provocado alterações significativas na região, criando novas ilhas, como Santa Rosa. Essas novas formações acabam sendo classificadas como “ilhas de ninguém”, uma vez que não estavam presentes quando as fronteiras foram definidas.
Especialistas consideram que um diálogo entre os dois países é essencial para que revisem as delimitações territoriais, mas essa revisão é complicada, principalmente devido ao clima tenso nas relações diplomáticas, que se agravou após a destituição do ex-presidente peruano Pedro Castillo, um evento que, segundo Petro, foi um golpe de Estado.
As discussões sobre Santa Rosa e a tríplice fronteira são um lembrete das complexidades que emergem nas relações entre países vizinhos, em um contexto de mudanças ambientais e disputas históricas.