Antiga sede do Dops em Belo Horizonte pode se transformar em memorial.

Movimentos Sociais Ocupam Antiga Sede do DOPS em Belo Horizonte para Criar Memorial
Em Belo Horizonte, movimentos sociais e partidos políticos ocuparam, no dia 1º de abril, a antiga sede da Delegacia da Ordem Política e Social (DOPS), um espaço historicamente associado à repressão e tortura durante a ditadura militar no Brasil. O objetivo da ocupação é transformar o local em um memorial dedicado à preservação da democracia e dos direitos humanos.
O prédio do DOPS, inaugurado em 1958, passou por várias mudanças após o fim da ditadura. Inicialmente, foi convertido em delegacia de polícia e, posteriormente, em uma cadeia feminina, mantendo a memória do local onde muitos foram aprisionados. Em 2016, o imóvel foi desocupado pela polícia e ficou abandonado.
Segundo Pablo Matta Machado, integrante da Comissão de Movimentos em Apoio à Ocupação, a luta para que o prédio se tornasse um memorial é longa. Ele explica que iniciativas em prol da preservação da memória dos direitos humanos começaram no final da década de 1980. A primeira lei para a criação do memorial foi proposta em 1999 pelo então deputado Rogério Correia. Embora o governo de Minas Gerais tenha realizado uma inauguração simbólica da “Casa da Liberdade” em 2018, o espaço foi gradualmente negligenciado pela administração atual.
Desde o início da ocupação, o local passou por uma limpeza significativa, uma vez que havia problemas com infestação de roedores e morcegos. Nos últimos dias, os ocupantes abriram o espaço para visitas guiadas, recebendo mais de 250 pessoas em apenas cinco dias, especialmente estudantes. Organizações voltadas aos direitos humanos também começaram a usar o espaço para atividades culturais e políticas.
No entanto, a situação se complicou a partir do dia 2 de abril, quando a Polícia Militar de Minas Gerais começou a restringir o acesso ao prédio, que possui tombamento histórico. O cerco policial intensificou-se nas semanas seguintes, limitando a entrada de manifestantes e visitantes.
Pablo Matta Machado ressalta que a principal demanda dos movimentos é o fim da restrição policial, permitindo a continuidade das atividades no memorial. “Com a garantia do fim do cerco policial, podemos manter o memorial aberto, mesmo que o governo não esteja disposto a dialogar”, afirmou.
Uma audiência pública realizada na Assembleia Legislativa de Minas Gerais também abordou a situação do local e a necessidade de um memorial de direitos humanos.
Em resposta à ocupação, a Secretaria de Estado de Desenvolvimento Social de Minas Gerais declarou que está concluindo as etapas administrativas para a criação do Memorial de Direitos Humanos, mas não se pronunciou sobre o cerco policial imposto às atividades dos movimentos sociais.