Notícias de Roraima

Defensoria Pública apoia mulheres vítimas de violência e busca Justiça

A Luta de Milena: Um Retrato da Violência e da Esperança

No ano de 2019, Milena, uma mulher de 36 anos e natural da Venezuela, mudou-se para o Brasil em busca de uma vida melhor. Ela conheceu um cliente do salão onde trabalhava como cabeleireira. Depois de algum tempo, o relacionamento evoluiu e eles decidiram morar juntos. No início, ele parecia ser um parceiro carinhoso e sonhava em ter filhos. No entanto, essa história de amor logo se transformou em um pesadelo.

Com o passar do tempo, Milena começou a perceber a mudança no comportamento do companheiro. O que começou com desrespeito leve se transformou em agressões emocionais e, eventualmente, em violência física. "Quando ele chegava em casa, sentíamos medo. Todos se trancavam nos quartos. Eu permaneci quase três anos nessa situação por causa da minha filha", contou Milena.

Ela se sentia presa, sem emprego ou recursos. A situação piorou quando, em uma briga, o companheiro a expulsou de casa, sabendo que ela não tinha a quem recorrer. Foi nesse momento que Milena entendeu que precisava mudar sua vida.

A Realidade da Violência em Roraima

A história de Milena é apenas uma entre muitas. O estado de Roraima apresenta índices alarmantes de violência contra a mulher. Segundo dados recentes, Roraima é um dos estados mais perigosos do Brasil para as mulheres, especialmente em relação à violência sexual e doméstica. O estado registrou a maior taxa de feminicídio do país em 2023, com 10,4 homicídios de mulheres para cada 100 mil habitantes, quase o triplo da média nacional.

Além disso, uma pesquisa mostrou que 80% das agressões ocorreram dentro de casa, muitas vezes cometidas por parceiros íntimos ou familiares. Uma parte considerável dessas vítimas provém de comunidades periféricas e, em muitos casos, não haviam registrado boletins de ocorrência, o que sugere dificuldades no acesso à justiça.

A questão da subnotificação também é relevante, especialmente entre mulheres indígenas, que frequentemente são identificadas de maneira errada nas estatísticas. Essa distorção, muitas vezes, esconde a verdadeira extensão da violência de gênero no estado.

O Papel da Defensoria Pública

Em meio a essa realidade, a Defensoria Pública de Roraima (DPE-RR) se destaca há 25 anos como um suporte para mulheres em situação de violência. Em 2017, a instituição criou a Especializada na Defesa dos Direitos da Mulher para oferecer atendimento jurídico a essas vítimas. Desde sua criação, mais de 22 mil mulheres tiveram acesso a serviços de apoio e orientação.

“A Defensoria luta para garantir que os direitos das mulheres sejam respeitados. É um lugar onde elas recebem informações e apoio, fundamentais para sua recuperação”, explicou Terezinha Muniz, defensora pública.

Nos últimos anos, a Defensoria ampliou suas ações ao inaugurar a Casa da Mulher Brasileira, que oferece serviços diversos, como acolhimento e orientação sobre questões jurídicas. Com um funcionamento 24 horas, a Casa permite que as mulheres acessem serviços de apoio imediato.

Ele tem lançado projetos importantes, como o "Salão de Defesa", que treina profissionais da beleza para reconhecer e encaminhar situações de violência. Ambientes como salões podem ser espaços seguros onde as mulheres se sentem à vontade para compartilhar suas experiências.

A Mudança na Vida de Milena

Milena encontrou apoio na Defensoria, que a ajudou a tomar decisões sobre sua vida. “Uma amiga me aconselhou a procurar a Defensoria. Eu pensava que, por ser estrangeira, não teria esse direito. Mas lá fui acolhida e pude esclarecer minhas dúvidas. Hoje, minha mente está mais leve”, contou.

Após compreender seus direitos, Milena se sente mais forte para reconstruir sua vida. Ela aconselha outras mulheres a romperem com a violência: “Procurem ajuda na Defensoria. Eles fazem valer nossos direitos e são fundamentais para nossa luta”.

Uma Iniciativa para os Homens

A Defensoria também está promovendo o projeto “Conversa na Obra”, que visa dialogar com homens, principalmente na construção civil, sobre masculinidade saudável e prevenção da violência. O objetivo é desconstruir estereótipos e criar um espaço para discussões sobre comportamentos mais respeitosos.

Essas iniciativas são importantes não apenas para apoiar as mulheres, mas também para educar os homens sobre a necessidade de respeito e empatia nas relações.

A Necessidade de Ação

A violência contra a mulher é um problema complexo e, infelizmente, uma realidade em muitas casas brasileiras. No entanto, histórias de superação como a de Milena mostram que é possível mudar essa narrativa. É fundamental que a sociedade ouça e proteja as vítimas, bem como promova iniciativas que educam e transformam mentalidades.

Para denunciar casos de violência, as mulheres podem entrar em contato com o número 180 ou procurar a Casa da Mulher Brasileira em Boa Vista. A luta contra a violência de gênero é de todos e começa pelo acolhimento e pela informação.

Editorial Noroeste

Conteúdo elaborado pela equipe do Folha do Noroeste, portal dedicado a trazer notícias e análises abrangentes do Noroeste brasileiro.

Artigos relacionados

Botão Voltar ao topo