Descubra as raízes do 1º de maio, Dia do Trabalhador – Especiais

O Dia do Trabalhador, celebrado em 1º de maio, vai além das festividades; é um símbolo de resistência e luta por direitos. Sua origem remonta a 1886, em Chicago, nos Estados Unidos, onde trabalhadores organizavam uma greve em busca de melhores condições, como a redução da jornada de trabalho, que na época chegava a 14 horas diárias. Durante essas manifestações, uma explosão ocorreu, resultando na violência policial que deixou mortos e muitos feridos. Apenas um dos muitos episódios de repressão, ele ficou conhecido como a “tragédia de Haymarket”.
Samuel Fernando de Souza, historiador e professor, explica que esse evento desencadeou uma série de repressões, levando à condenação de líderes sindicais. Durante a Internacional Socialista de 1889, estabeleceu-se o 1º de maio como um dia de luta e homenagem aos trabalhadores.
No Brasil, a data começou a ser celebrada em 1891, inicialmente no Rio de Janeiro e, posteriormente, em Porto Alegre. Como enfatiza Souza, o dia tornou-se um símbolo do movimento trabalhista, mas sua conotação foi politicamente contestada ao longo do tempo, especialmente durante o regime militar, quando passou a ser tratado mais como uma festa do que como um dia de reivindicações.
Sob a presidência de Getúlio Vargas, o 1º de maio foi transformado em uma data para comemorar o trabalho, momento em que foram apresentadas várias leis de proteção aos trabalhadores, incluindo a Consolidação das Leis do Trabalho (CLT). Vargas utilizou essa data, por exemplo, para anunciar aumentos no salário mínimo durante seu governo na década de 1950.
Na década de 1970, o movimento conhecido como Novo Sindicalismo trouxe de volta os ideais de luta, utilizando a data para organizar protestos contra a ditadura militar e por uma abertura política. Nesse contexto, figuras como Luiz Inácio Lula da Silva emergiram como líderes no movimento operário.
A pesquisadora Laura Valle Gontijo, da Universidade de Brasília (UnB), destaca que a transformação do Dia do Trabalhador em Dia do Trabalho foi uma estratégia para despolitizar a data, tornando-a uma mera celebração, afastando assim a luta por direitos trabalhistas. Isso acontece em um contexto semelhante ao que ocorre no Dia Internacional da Mulher, que também é frequentemente reduzido a uma celebração ao invés de um dia de reivindicações.
As demandas atuais dos trabalhadores no Brasil incluem a manutenção de direitos ameaçados e a ampliação de proteções trabalhistas. Um dos principais desafios mencionados é a “pejotização”, que compromete a proteção dos trabalhadores que atuam como pessoas jurídicas. Além disso, a falta de regulamentação das plataformas digitais implica que esses trabalhadores estão sujeitos a longas jornadas sem garantias de direitos.
Estudos recentes revelam que entregadores de aplicativos têm enfrentado jornadas excessivas, algumas chegando a 80 horas por semana, muito além do que é legalmente permitido. Gontijo alerta que esse cenário é comparável ao auge da Revolução Industrial, quando não havia regulamentação trabalhista.
A pesquisa aponta que muitos trabalhadores enfrentam turnos desgastantes, e a discussão sobre a escala 6×1 — que prevê apenas um dia de folga por semana — é um exemplo da luta por melhorias nas condições de trabalho. Essa escala impacta severamente a vida social e familiar dos trabalhadores.
Como solução, a pesquisa e o debate apontam para a necessidade de uma redução da jornada de trabalho para 35 ou 36 horas semanais, uma pauta considerada essencial para os tempos atuais. Discutir limites para a carga horária é crucial para melhorar a qualidade de vida dos trabalhadores.
Infelizmente, muitas empresas resistem a essas mudanças, argumentando que isso comprometeria suas operações. Entretanto, exemplos de outros países, como a França, que adotou uma jornada de 35 horas, mostram que uma jornada de trabalho mais curta pode, na verdade, resultar em maior qualidade de vida para os trabalhadores.
Com o avanço das tecnologias, muitas empresas estão mais produtivas, mas essa produtividade não tem se revertido em benefícios para os trabalhadores. Pelo contrário, a jornada de trabalho tem se estendido, aumentando a exploração. O que se observa é que, após décadas, a luta por direitos trabalhistas permanece essencial, evidenciando um retrocesso em condições que já deveriam ter sido superadas.