Notícias Agora

WeWork reduz operações no Brasil e reestrutura sua atuação

Quase dez anos após sua entrada marcante no Brasil, a WeWork enfrenta uma série de desafios e processos judiciais relacionados a inadimplência, renegociações de contratos de locação e devolução de espaços comerciais. A empresa sofreu um grande impacto devido à pandemia de covid-19, que trouxe a mudança do home office e resultou em uma drástica queda nas receitas. Desde então, a WeWork tem buscado se reestruturar com foco em lucratividade, mas continua envolvida em controvérsias, como o recente despejo de clientes de um prédio na Vila Madalena.

Um relatório da consultoria Siila aponta que a WeWork perdeu mais de 25 mil metros quadrados de escritórios alugados no Brasil desde o pico de suas operações em 2020. O impacto mais significativo ocorreu neste ano, quando a empresa deixou quase 18 mil m². Escritórios como o Vita Corá, no Alto de Pinheiros, e o Centenário, na Berrini, foram devolvidos pela WeWork em 2024. A mais recente polêmica envolveu o edifício Girassol 555, onde dezenas de inquilinos foram despejados para dar espaço a funcionários de uma nova empresa, a Meituan, que é parte do setor de delivery.

Claudio Hidalgo, presidente da WeWork na América Latina, defendeu as ações da empresa, afirmando que a flexibilidade é um dos pilares do seu modelo de negócios, exigindo uma gestão ativa e constante dos espaços. Alex Waclawovsky, fundador da Senior 45!60, criticou o curto aviso prévio dado aos mais de 150 funcionários despejados, que foi de apenas quatro horas. Ele sugeriu que a empresa poderia ter oferecido um aviso mais longo.

O modelo de negócios da WeWork envolve alugar prédios ou andares inteiros por contratos de longo prazo, que variam de cinco a quinze anos, e sublocar esses espaços em contratos mais flexíveis. Durante a pandemia, a demanda caiu e a empresa viu suas receitas encolher, enquanto ainda enfrentava altos custos operacionais.

Nos últimos anos, a WeWork não conseguiu pagar aluguéis a diversos fundos imobiliários e construtoras, incluindo a HBR Realty e a Stan Empreendimentos. Mesmo com pagamentos em dia por parte dos inquilinos, alguns correram risco de despejo. A WeWork afirma que resolveu suas pendências e agora opera sem dívidas na América Latina. Um advogado especializado mencionou que a empresa quitou a maioria de suas dívidas que, em um momento, somaram mais de R$ 60 milhões, indicando que isso pode ter sido parte de uma estratégia de negociação.

Em relação ao despejo no Girassol 555, o advogado observou que é raro ver ações assim dentro do setor, mas contratos de escritório compartilhado frequentemente preveem mudanças nas condições de uso.

A WeWork compete no mercado de coworking com empresas como Regus e GoWork. Embora tenha passado por dificuldades, ainda lidera o setor no Brasil, com mais de 70 mil m² operacionais em 28 prédios em São Paulo e Rio de Janeiro. A redução de espaços tem gerado incertezas sobre a viabilidade desse modelo de negócios de escritórios compartilhados.

Giancarlo Nicastro, CEO da Siila, afirmou que a WeWork passou por um crescimento agressivo ao fechar contratos caros, mas isso levou a problemas financeiros. A crise se intensificou em 2019, quando a empresa planejou sua abertura de capital e, após prever perdas significativas e erros de gestão, acabou cancelando o IPO. Desde então, a marca perdeu valor e começou a acumular dívidas.

Em 2023, a WeWork entrou em recuperação judicial nos Estados Unidos, mas saiu em 2024 após reestruturar suas dívidas. Enquanto isso, a operação brasileira estava sob controle do fundo japonês SoftBank, até que a empresa recomprou a participação do fundo no começo do ano, passando a controlar 100% de suas operações no Brasil.

Essa mudança motivou a empresa a adotar uma estratégia de enxugamento e foco em eficiência financeira, priorizando espaços com alta ocupação. Hidalgo afirmou que a taxa de ocupação atual é de 84%, e que a empresa está tentando se reestabelecer no mercado brasileiro, apesar dos impactos negativos nas relações contratuais.

O especialista Renato Almeida, da Cushman & Wakefield, mencionou que o mercado de escritórios compartilhados ainda está em crescimento no Brasil. Ele explicou que proprietários de prédios favorecem operadores de coworking, já que isso pode aumentar as oportunidades de seus atuais locatários. Edifícios em áreas como Faria Lima e Paulista são altamente procurados, especialmente por empresas que precisam de espaços flexíveis.

Almeida também destacou que uma reforma tributária prevista para 2027 pode tornar o modelo de locação de escritórios compartilhados mais interessante, beneficiando empresas como a WeWork e seus concorrentes.

A WeWork reafirma que seu objetivo é oferecer a melhor experiência aos mais de 22 mil membros no Brasil, apoiando empresas de diferentes tamanhos. A empresa acredita que o trabalho flexível continuará sendo um fator importante para inovação e crescimento no setor.

Editorial Noroeste

Conteúdo elaborado pela equipe do Folha do Noroeste, portal dedicado a trazer notícias e análises abrangentes do Noroeste brasileiro.

Artigos relacionados

Botão Voltar ao topo