Promotor Lincoln Gakiya destaca risco do crime nas eleições 2026

O promotor de Justiça Lincoln Gakiya alertou sobre a crescente infiltração do Primeiro Comando da Capital (PCC) na política brasileira. Em uma entrevista ao programa Roda Viva, da TV Cultura, ele destacou que a facção criminosa já tem financiado campanhas de vereadores e até de candidatos a prefeito em diversas cidades de São Paulo. Gakiya expressou preocupação de que as próximas eleições, tanto estaduais quanto nacionais, possam também ser afetadas por dinheiro do crime organizado.
De acordo com Gakiya, investigações recentes apontaram que diversos candidatos com vínculos com o PCC participarão das eleições municipais de 2024. Embora ainda não exista uma contabilização precisa sobre quantos desses candidatos conseguiram vencer, ele enfatizou que a facção não busca apenas grandes cargos no Legislativo, mas sim o controle das políticas locais.
As lideranças do PCC, segundo Gakiya, perceberam que eleger deputados ou senadores não trazia os benefícios esperados para a organização criminosa. O real interesse está em conquistar cargos que possibilitem o acesso a contratos e serviços públicos nas cidades, o que pode impactar diretamente a rotina local e os negócios ilícitos da facção.
Gakiya, que integra o Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco) do Ministério Público do Estado de São Paulo, investiga as atividades do PCC desde 2004 e vive sob escolta policial devido às ameaças que recebe.
Ele ressaltou a preocupação de que a eleição de vereadores e prefeitos facilite os negócios da facção nos municípios onde atuam. O promotor pediu uma vigilância maior por parte dos partidos políticos em relação à origem dos recursos que financiam as campanhas, alertando que as próximas eleições para governador, Congresso e até para a presidência da República podem estar sujeitas à influência do crime organizado.
Durante a entrevista, Gakiya mencionou a Operação Carbono, que investigou um esquema bilionário do PCC no setor de combustíveis. Ele explicou que as facções criminosas estão buscando diversificar seus negócios para além das atividades tradicionais, envolvendo-se em setores como comércio, administração de carreiras artísticas e apostas esportivas.
Ele observou que a falta de regulamentação e o baixo controle em alguns setores tornam o ambiente propício para atividades do crime organizado, que sempre procura áreas com alta lucratividade e baixo risco.
O promotor também destacou que, enquanto o Estado avança lentamente, organizações criminosas como o PCC têm se expandido e diversificado suas operações. Completou dizendo que é essencial a criação de uma estrutura de trabalho coordenada entre diferentes órgãos do governo para enfrentar a crescente infiltração do crime na política.
Gakiya defende a implementação de uma legislação específica para combater as chamadas “organizações mafiosas”. Ele participou da elaboração de um anteprojeto de lei que busca fortalecer a luta contra o crime organizado e sugere que essas organizações, que exercem influência direta sobre os processos políticos, sejam consideradas “organizações criminosas qualificadas”.
O Ministério da Justiça e da Segurança Pública está trabalhando em um pacote de medidas que inclui a proposta de criação de novos tipos de crimes relacionados a organizações criminosas, com penas de até 20 anos de prisão para os envolvidos.