Marrocos recebe críticas por abate de cães antes da Copa de 2030

Em Ifrane, uma cidade montanhosa do Marrocos, a jovem Fatimazarah, de 19 anos, denuncia a situação alarmante dos cães de rua. Ela vive em uma região conhecida como a “Suíça do Marrocos”, mas a beleza do local contrasta com a realidade de cães mortos sendo comuns nas ruas. Com medo de retaliações, Fatimazarah pediu que seu sobrenome não fosse revelado.
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Ela relata que ao ir para a escola, frequentemente se depara com poças de sangue e corpos de cães mortos. Para ela, essa situação se tornou ainda mais trágica nos últimos tempos. Antes, os casos de maus-tratos eram esporádicos, mas agora ocorrem de forma sistemática, como se fosse um passatempo para alguns indivíduos. A jovem compara a matança a uma prática de caça, levantando preocupações profundas sobre o bem-estar animal na região.
Organizações que defendem os direitos dos animais afirmam que essas ações fazem parte de uma campanha do governo para “limpar” as ruas do Marrocos em preparação para a Copa do Mundo de 2030, que será sediada em conjunto com Espanha e Portugal. Les Ward, diretor da Coalizão Internacional de Proteção e Bem-estar Animal, afirma que indivíduos armados percorrem as ruas à noite, atirando nos cães. Outros animais capturados são levados para depósitos municipais, onde, de acordo com a denúncia, são envenenados e desaparecem.
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O presidente do Conselho Provincial de Turismo de Ifrane, Omar Jaïd, confirma que a cidade está removendo os cães das ruas como parte dos preparativos para o grande evento esportivo. Ele afirma que os animais capturados são levados para centros onde podem ser vacinados, destacando seu amor pelos cães.
Fatimazarah narra um evento traumático que presenciou em fevereiro de 2024, quando foi acordada por tiros e encontrou três cães mortos em uma lixeira, incluindo um husky que ela conhecia. Ela expressa terror e impotência diante do sofrimento dos animais.
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Sobre a questão da saúde pública, Mohammed Roudani, chefe da Divisão de Saúde Pública e Espaços Verdes do Ministério do Interior, destaca que os cães de rua podem transmitir raiva, com cerca de 100 mil pessoas mordidas anualmente no Marrocos, a maioria crianças. Em 2019, o governo implementou um programa para controlar a população de cães de forma mais humanitária. Contudo, a gestão dos animais de rua é responsabilidade das municipalidades, o que gera um vácuo legal e faz com que métodos tradicionais ainda sejam utilizados em algumas cidades.
Roudani denuncia o uso de substâncias como estricnina para matar cães, algo que causa grande sofrimento e é proibido em outros países. Ele pede que a questão seja tratada de maneira ética, ressaltando a necessidade de acabar com as matanças.
Vídeos obtidos mostram a brutalidade do extermínio em várias cidades marroquinas. Em um incidente, Abderrahim Sounni, um barista, foi baleado enquanto tentava ajudar um cão perseguido; os tiros atingiram suas pernas e ele precisou ser hospitalizado.
A situação gerou preocupação entre defensores dos direitos dos animais. Em fevereiro, uma coalizão de grupos escreveu à Fifa pedindo ação contra o abate de cães de rua antes da Copa do Mundo. A conservacionista Jane Goodall expressou sua indignação com a prática do governo marroquino, que busca “apresentar” o país melhor a visitantes internacionais.
Embora a Fifa tenha dito que está comprometida com a proteção dos direitos dos animais, a organização não respondeu diretamente às preocupações levantadas. No entanto, garantiu que está em contato com autoridades locais para garantir que os compromissos em relação ao bem-estar animal sejam mantidos.
Com crescente escrutínio internacional, os abatedouros de cães estão se tornando mais discretos. Residentes relataram que, ao contrário do ano passado, quando vans eram visíveis nas ruas com cães exibidos, agora veículos não identificados operam silenciosamente. Um testemunho relata que em Casablanca, vans municipais estão ativamente recolhendo animais de rua.
Uma moradora, Erin Captain, que se importou com cães de rua, viu seus animais sendo levados de sua casa de maneira cruel e ficou devastada com a situação.
Diante disso, a Fifa está ciente do problema e fez reuniões com grupos de defesa animal. Propuseram um projeto de lei para impedir o abate e adotar métodos mais humanos de controle da população de cães, enfatizando a necessidade de melhorar a saúde pública sem comprometer o bem-estar animal.
A crescente atenção sobre este tema evidencia uma crise de direitos dos animais no país, e muitos pedem ações concretas para evitar um desastre humanitário e uma crise de relações públicas, especialmente com a aproximação da Copa do Mundo de 2030.
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