Ex-coordenador da PRF confirma medidas para impedir eleitores em 2022

Ex-coordenador da PRF Confirma Policiamento Direcionado em Eleições de 2022
Brasília – O ex-coordenador de inteligência da Polícia Rodoviária Federal (PRF), Adiel Pereira Alcântara, revelou em depoimento ao ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), que a PRF realizou atividades de “policiamento direcionado” durante o segundo turno das eleições de 2022. O objetivo dessas operações, segundo o depoente, era barrar o trânsito de eleitores do Partido dos Trabalhadores (PT).
Adiel relatou que recebia ordens de antigos diretores da PRF para realizar blitze que resultavam na parada de ônibus com eleitores. Ele afirmou que “estavam criando uma polícia de governo, e não de Estado”, sugerindo que as ações da PRF não estavam em conformidade com o papel neutro que a instituição deveria ter.
O ex-coordenador também destacou que muitos policiais da PRF não estavam confortáveis com essa associação à imagem do ex-presidente Jair Bolsonaro, mencionando que setores da corporação participavam de eventos como motociatas organizadas pelo ex-presidente e viabilizavam publicações sobre apreensões realizadas na estrutura da PRF.
Depoimentos de Outros Agentes
Clebson Ferreira de Paula Vieira, um agente de inteligência que trabalhou no Ministério da Justiça, também prestou depoimento. Ele enfatizou que era responsável por elaborar relatórios para sustentar operações da PRF. Vieira mencionou que a produção desses relatórios era solicitada por uma funcionária do ministério e que ele ficou alarmado ao perceber que as informações seriam utilizadas para justificar blitze ilegais. “Fiquei apavorado porque uma habilidade técnica foi utilizada para uma tomada de decisão ilegal”, disse.
Ele ainda apontou que operações ocorreram em locais com pouco fluxo de trânsito e que já esperava a realização dessas ações no segundo turno, com base em suas observações e não em provas concretas.
O Andamento do Processo
O tribunal está na fase de ouvir 82 testemunhas indicadas pela acusação e pelas defesas dos réus. Essa etapa ocorrerá entre os dias 19 de maio e 2 de junho. Após os depoimentos, Jair Bolsonaro e os demais acusados serão convocados para um interrogatório, cuja data ainda será definida. A expectativa é de que o julgamento, que poderá resultar na condenação ou absolvição dos réus, aconteça ainda neste ano.
Os acusados enfrentam sérias acusações, que incluem organização criminosa armada e tentativa de abolição violenta do Estado Democrático de Direito, entre outras.
Os Réus do Caso
Os oito réus, que constituem o núcleo central das alegações de golpe, tiveram a denúncia aceita de forma unânime pela Primeira Turma do STF em 26 de março. Os envolvidos são:
- Jair Bolsonaro, ex-presidente da República;
- Walter Braga Netto, general do Exército e ex-ministro;
- Augusto Heleno, general e ex-ministro do Gabinete de Segurança Institucional;
- Alexandre Ramagem, ex-diretor da Agência Brasileira de Inteligência (Abin);
- Anderson Torres, ex-ministro da Justiça;
- Almir Garnier, ex-comandante da Marinha;
- Paulo Sérgio Nogueira, general do Exército e ex-ministro da Defesa;
- Mauro Cid, delator e ex-ajudante de ordens de Bolsonaro.
Essas ações e denúncias ressaltam as tensões políticas que marcaram o processo eleitoral e suas repercussões nas instituições de segurança pública.