Experiência no Carandiru: os primórdios do PCC

No antigo Carandiru, um dos locais mais infames do sistema prisional paulista, o surgimento do Primeiro Comando da Capital (PCC) começou a tomar forma após o massacre de 1992, onde 111 detentos perderam a vida. Esse evento chocante teve grande repercussão mundial e, a partir dele, se intensificaram as lutas pelo controle da Casa de Detenção e, posteriormente, pelo sistema prisional como um todo.
Em um dia de 1994, na enfermaria do complexo penitenciário, um jovem foi levado com mais de 30 facadas. Um detalhe específico chamou a atenção do responsável pela análise do corpo: uma profunda ferida que expunha a traqueia e a base do crânio. Este tipo de ataque só poderia ter sido brutalizado em um corpo já inerte.
Ao comentar sobre a ferocidade da agressão, um carcereiro avisou que era uma marca característica do PCC, prevendo que a facção ainda causaria muitos problemas. O PCC foi fundado em agosto de 1993 por oito prisioneiros do Anexo da Casa de Custódia de Taubaté, também conhecido como Piranhão, um presídio de segurança máxima destinado a detentos considerados altamente perigosos.
A condição do Anexo era extremamente severa. Os presos passavam 23 horas trancados em celas sem janelas, que eram iluminadas 24 horas por dia. O espaço era limitado, consistindo apenas de uma cama, um caixote, um cano d’água para chuveiro e um vaso sanitário, cuja descarga era controlada por um funcionário, fazendo com que os prisioneiros não tivessem controle sobre suas necessidades.
Não havia entretenimento, como televisão ou rádio, e as únicas leituras disponíveis eram as Bíblias, além de um tempo limitado para se exercitar no pátio, que incluía inspeções rigorosas.
Após um jogo de futebol em 1993, o grupo que formou o PCC se uniu com a intenção de combater as mazelas do sistema e de vingar as mortes ocorridas no massacre. Com o passar do tempo, os membros mais radicais da facção, que pregavam a eliminação de inimigos, foram sendo eliminados, e em 2002, os membros considerados “moderados” ganharam controle sobre as operações.
Hoje, o PCC não apenas domina a maioria dos presídios de São Paulo, mas suas influências se espalharam pelo Brasil e até por países vizinhos, como Paraguai, Bolívia e Colômbia. Sua estrutura hierárquica conta com um líder máximo e um colegiado de sete membros responsáveis por diversas atividades, incluindo o tráfico de drogas, gerenciamento financeiro, além de ações assistenciais para suas comunas.
Os membros do PCC cumprem penas longas em presídios distantes da capital paulista. Para se tornar parte da facção, um novo membro deve ser apresentado por um já filiado e, uma vez aceito, passa a ser chamado de “irmão” ou “irmã”, devendo obedecer rigorosamente a um estatuto que valoriza a fidelidade, solidariedade e outros princípios.
A trajetória do PCC se entrelaça com a história do sistema prisional brasileiro, refletindo as complexidades e desafios que permeiam a questão da segurança e a luta por direitos dos detentos.