Esquema bilionário do PCC no setor de combustíveis é revelado

Uma grande operação policial foi realizada na manhã de quinta-feira, 28, e revelou um esquema criminoso de grande porte envolvendo o Primeiro Comando da Capital (PCC) no setor de combustíveis. Este esquema, avaliado em mais de R$ 8,4 bilhões, incluía fraudes fiscais, estelionato e lavagem de dinheiro. Essa é considerada a maior operação já realizada em termos de valores movimentados relacionados ao PCC.
De acordo com informações do Ministério Público de São Paulo, o grupo criminoso utilizava empresas chamadas Copape e Aster, que atuam na formulação e distribuição de combustíveis, para executar suas atividades ilegais. Estas empresas já tinham um histórico de investigações por fraudes fiscais e, em consequência, suas licenças foram cassadas pela Agência Nacional de Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP).
O esquema envolvia toda a cadeia produtiva e comercialização de combustíveis, desde usinas sucroalcooleiras até postos de gasolina. Ele era sustentado por uma complexa rede de empresas e instrumentos financeiros que facilitava as fraudes. Os principais líderes identificados pela Promotoria foram Roberto Augusto Leme da Silva e Mohamad Hussein Mourad. Esses indivíduos empregavam centenas de empresas em nome de “laranjas”, muitas vezes familiares, para encobrir suas práticas fraudulentas. Informações levantadas durante as investigações mostraram ligações entre Mourad e o PCC.
As investigações começaram em 2023, quando a Polícia Rodoviária Federal interceptou um transporte ilegal de metanol. Este produto, que não é fabricado no Brasil e possui uso restrito, estava sendo desviado de empresas químicas e entregue clandestinamente a postos de gasolina na Grande São Paulo. Esse desvio era realizado com documentação falsa, desrespeitando normas de segurança.
O metanol, que é altamente inflamável e tóxico, estava sendo utilizado para adulterar combustíveis. Em alguns casos, postos de gasolina chegaram a misturar até 50% de metanol na gasolina, muito acima do limite legal de 0,5% estabelecido pela ANP. Para evitar a fiscalização, a organização criminosa construía uma sofisticada estrutura de documentos, incluindo notas fiscais falsas que ocultavam a verdadeira natureza das cargas.
A rede de empresas em nome de laranjas incluía, principalmente, usinas sucroalcooleiras da região de Catanduva. Uma das fraudes significativas identificadas pela investigação foi a prática de sobrepreço na compra de cana-de-açúcar, que chegava a 43% acima do valor de mercado. Esse tipo de manobra era utilizado para evitar o pagamento de impostos e gerar créditos tributários indevidos.
Os criminosos também encontraram formas de driblar o sistema de combate à lavagem de dinheiro. Eles inseriam os valores ilícitos no sistema financeiro por meio de fintechs e instituições de pagamento, ao invés de bancos tradicionais. Dessa forma, o dinheiro adquirido de maneira ilícita era reinvestido em negócios e propriedades utilizando fundos de investimento.
De acordo com a Promotoria, duas instituições de pagamento, BK e Bankrow, eram utilizadas para gerenciar o dinheiro. Essas instituições operavam com um sistema de “contas bolsões”, permitindo o depósito de valores de diversos clientes em uma única conta, dificultando a rastreabilidade das transações. As fintechs mantinham uma contabilidade paralela que possibilitava transferências entre empresas sem identificar os beneficiários finais.
Os suspeitos ainda utilizavam fundos de investimento para esconder a propriedade de empresas adquiridas. Muitos desses fundos contavam com cotistas únicos, que eram outros fundos, criando camadas que complicavam a identificação do real beneficiário final.
Até o momento, os investigados, assim como as empresas e instituições de pagamento envolvidas, não foram localizados. O caso ainda está em aberto e continua sob investigação.