Invasão chinesa nos mares: o maior navio de carros do mundo atraca no Brasil
Sabe aquela sensação de que os chineses estão em todos os lugares? Pois agora, eles chegaram também pelos mares. E não foi com qualquer embarcação. O BYD Shenzhen, considerado o maior navio transportador de veículos do planeta, partiu da China rumo ao Brasil trazendo mais de 7 mil carros elétricos e plug-in. Um avanço logístico gigantesco que escancara a força da invasão chinesa no setor automotivo nacional.

A embarcação deixou o Porto de Taicang, na Província de Jiangsu, no último domingo de abril, carregada até o teto com veículos da BYD — marca que se tornou sinônimo de carro elétrico acessível por aqui. O destino? Porto de Itajaí, em Santa Catarina, com chegada prevista para o final de maio. Mas o que há por trás dessa operação grandiosa vai muito além do transporte de veículos.
Com 219 metros de comprimento e quase 38 metros de largura, o BYD Shenzhen é um verdadeiro colosso dos mares. Seu interior abriga até 9.200 veículos, o equivalente a 20 campos de futebol em área útil. Ao todo, são 16 conveses, dos quais 12 são dedicados exclusivamente aos carros. Essa estrutura não só impressiona pelo tamanho, mas também pelo foco em eficiência — com um sistema de propulsão dual que combina gás natural liquefeito e combustível marítimo convencional, reduzindo em até 99% a emissão de enxofre.
A viagem de 30 dias corta os oceanos Índico e Atlântico, passando pelo Estreito de Malaca, até chegar em solo brasileiro. É uma rota estratégica que fortalece a conexão direta entre a indústria automotiva chinesa e o consumidor latino-americano. O Brasil, nesse contexto, se torna um dos alvos prioritários da chamada invasão chinesa — um movimento que já vem sendo sentido nas concessionárias, nos dados de emplacamentos e, agora, até nas docas portuárias.
Para entender a dimensão dessa ofensiva, basta olhar os números. Em 2024, a BYD emplacou 76.713 veículos no Brasil, um crescimento de mais de 327% em apenas um ano. Isso colocou a montadora chinesa entre as oito maiores do país, sendo a quinta colocada quando se consideram apenas as vendas de varejo. E tudo isso em apenas três anos de atuação no território brasileiro.
Mas nem tudo são aplausos. Com a fábrica da BYD em construção em Camaçari (BA) e um investimento de R$ 5,5 bilhões em jogo, já se levantam questionamentos. O sindicato dos metalúrgicos da região teme que o polo industrial acabe sendo reduzido a um centro de distribuição de peças e carros semi-montados — repetindo o padrão de dependência externa que tanto marcou a história industrial brasileira.
Mesmo assim, a operação do BYD Shenzhen deixa claro o apetite chinês por ocupar espaço. A embarcação é o quarto navio RoRo da marca, e outros dois já estão a caminho para ampliar a frota. Isso revela uma estratégia bem definida de dominar a logística global da mobilidade elétrica com frota própria, portos alinhados e uma cadeia produtiva verticalizada — do chip à concessionária.
Do lado ambiental, há também uma mensagem. O navio é equipado com tinta anti-incrustante, motores de alta eficiência e sistemas de recondensação de gás, cortando significativamente as emissões. Ou seja: enquanto transporta milhares de veículos, também serve como vitrine da nova era verde da mobilidade.
Mas o impacto mais visível — e talvez mais polêmico — está na velocidade com que a China, por meio da BYD, transformou o Brasil em um de seus principais mercados de carros elétricos. Hoje, 7 em cada 10 veículos elétricos vendidos por aqui levam o selo da BYD. Uma liderança que já não parece mais passageira.
A chegada do BYD Shenzhen ao Porto de Itajaí é um marco simbólico dessa nova ordem automotiva. Um símbolo flutuante da presença chinesa que vai além das vitrines das lojas e agora se impõe nas águas, nos portos e nas estatísticas. Resta saber: estamos assistindo à modernização do setor ou à transferência silenciosa da nossa soberania industrial?
E você, já sentiu de perto os efeitos dessa invasão chinesa?