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Cientistas ‘interrogam’ árvores e descobrem a agonia da Amazônia

A Floresta Amazônica, com sua imensidão verde e misteriosa, guarda segredos de décadas, séculos. Suas árvores mais antigas são como testemunhas silenciosas que assistiram a todas as transformações do planeta, registrando em seus corpos a história do clima, das chuvas e das secas. Elas viram tudo, mas nunca puderam contar.

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Por muito tempo, os cientistas se perguntaram como acessar essa memória, como fazer essas gigantes falarem.

Em uma região tão vasta e com poucas estações meteorológicas, entender as mudanças climáticas do passado parecia uma tarefa quase impossível, deixando-nos no escuro sobre a real saúde da floresta.

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Mas, agora, uma equipe de cientistas brasileiros e ingleses encontrou uma forma de “interrogar” essas testemunhas.

Usando uma técnica inovadora, eles conseguiram decifrar os segredos trancados no coração das árvores e o que elas revelaram é um depoimento chocante sobre a agonia da Amazônia. O ciclo de vida da floresta, como o conhecemos, está se tornando perigosamente extremo.

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Os anéis da verdade: como as árvores ‘falam’ com os cientistas

O segredo para fazer uma árvore “falar” está nos seus anéis de crescimento, aquelas marcas circulares que vemos em um tronco cortado. Cada anel é como uma página de um diário, registrando as condições climáticas do ano em que se formou.

Para ler esse diário, os pesquisadores analisaram as variações dos átomos de oxigênio presentes na madeira de duas espécies-chave, a Cedrela odorata e a Macrolobium acaciifolium.

Essa análise, quase como um exame de DNA, permitiu reconstruir com uma precisão inédita a história das chuvas na região entre 1980 e 2010.

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O depoimento chocante: um ciclo de água que beira o colapso

O que as árvores contaram é alarmante. O ciclo de chuvas na Amazônia não está apenas mudando, está se tornando mais violento e imprevisível. O equilíbrio que sustentou a floresta por milênios está se quebrando em dois extremos perigosos:

  • Estação chuvosa (inverno amazônico): Tornou-se muito mais úmida e intensa, com um aumento devastador no volume de chuvas, que varia de 15% a 22%. Isso resulta em inundações mais frequentes, severas e destrutivas.
  • Estação seca (verão amazônico): Em contrapartida, ficou muito mais longa e severa. As árvores registraram uma redução drástica nas chuvas durante este período, com uma queda que varia de 8% a 13%, agravando as secas e o risco de incêndios florestais.

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Por que a ‘agonia’ da Amazônia é um problema para o mundo todo

Essa intensificação do ciclo hídrico não é um problema apenas para a floresta. Como alerta o biólogo Jochen Schöngart, do INPA, um dos autores do estudo, isso representa uma ameaça direta à segurança alimentar e hídrica de milhões de pessoas que vivem na região, incluindo povos indígenas e ribeirinhos.

Mas o impacto não para por aí. A Amazônia funciona como um gigantesco ar-condicionado para o planeta, regulando o clima em escala global.

A sua desestabilização pode gerar um efeito dominó, com consequências para o regime de chuvas e as temperaturas em todo o continente e, em última instância, para o mundo todo. O depoimento das árvores não é apenas um alerta; é um chamado urgente para ações que possam mitigar essa agonia.

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Rodrigo Campos

Jornalista, pós-graduado em Comunicação e Semiótica, graduando em Letras. Já atuou como repórter, apresentador, editor e âncora em vários veículos de comunicação, além de trabalhar como redator e editor de conteúdo Web.

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