Ex-ministro afirma que alertou Bolsonaro sobre golpe em 2021

O ex-ministro da Defesa, Paulo Sérgio Nogueira, revelou nesta terça-feira (10) que advertiu Jair Bolsonaro sobre os riscos de ações golpistas no final de seu governo, em 2022. Nogueira, que é general do Exército, é um dos réus em uma ação penal relacionada a essa suposta tentativa de golpe. Ele foi convocado para prestar depoimento ao ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), que é o relator do caso.
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A Procuradoria-Geral da República (PGR) acusa Nogueira de apoiar críticas ao sistema eleitoral, instigar tentativas de golpe e apresentar uma proposta de decreto golpista para obter respaldo dos comandos das Forças Armadas. Nogueira confirmou sua presença em uma reunião convocada por Bolsonaro, onde foram discutidos estudos sobre a possibilidade de usar medidas de estado de sítio para contestar o resultado das eleições. No entanto, ele negou ter apresentado a minuta do decreto na ocasião.
O general expressou que ficou bastante preocupado durante a reunião com Bolsonaro e afirmou ter alertado o ex-presidente sobre a seriedade do que estava sendo cogitado. Ele mencionou que tanto ele quanto o ex-comandante do Exército, Freire Gomes, saíram da reunião com muitas preocupações. “Eu destaquei a gravidade de qualquer ideia de estado de defesa ou de sítio, discutindo as consequências que isso poderia ter”, ressaltou Nogueira.
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No que diz respeito à minuta de golpe, o ex-ministro afirmou que nunca tratou desse assunto com seus ex-comandantes, refutando a acusação da PGR. “Nunca levei uma minuta de golpe para discussão com eles”, disse.
Nogueira também negou ter sofrido pressão de Bolsonaro para manipular o relatório de auditoria das urnas eletrônicas das eleições de 2022, afirmando que o documento apresentado ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE) foi elaborado com base nas análises dos técnicos das Forças Armadas. “Jamais fui pressionado para alterar o relatório ou enviá-lo apenas para o segundo turno. A denúncia que aponte isso me incomoda”, declarou ele.
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Além disso, Nogueira pediu desculpas publicamente ao ministro Alexandre de Moraes por ter feito críticas infundadas ao trabalho do TSE e às urnas eletrônicas. Ele reconheceu o uso de palavras inadequadas durante a reunião: “Quero expressar minhas desculpas por essas colocações”.
O ministro Alexandre de Moraes está conduzindo os interrogatórios de oito réus que teriam participado do que é considerado o “núcleo crucial” da tentativa de golpe. Além de Nogueira, outros réus já foram ouvidos, incluindo Mauro Cid, ex-ajudante de ordens de Bolsonaro; Alexandre Ramagem, então diretor da Agência Brasileira de Inteligência (Abin); Almir Garnier, ex-comandante da Marinha; Anderson Torres, ex-ministro da Justiça; e Augusto Heleno, ex-ministro do Gabinete de Segurança Institucional. O ex-presidente Jair Bolsonaro também já depôs.
Walter Braga Netto, general e ex-ministro de Bolsonaro, será o próximo a prestar depoimento e fará isso por videoconferência. Ele está preso desde dezembro do ano passado por supostamente obstruir as investigações sobre a tentativa de golpe e por tentar obter informações da delação de Mauro Cid.
Os interrogatórios fazem parte de uma das últimas etapas da ação penal. O julgamento que irá decidir se os réus serão condenados ou absolvidos deve ocorrer no segundo semestre deste ano. Em caso de condenação, as penas podem ultrapassar 30 anos de prisão.
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