China impõe licença para exportação de carros elétricos

Pouco a pouco, a China está colocando freios no avanço desordenado da sua indústria de carros elétricos. Recentemente, o governo anunciou que, a partir de 1º de janeiro de 2026, apenas fabricantes autorizados poderão exportar veículos 100% elétricos, com a necessidade de licenças oficiais. Essa decisão busca colocar uma ordem no setor, que tem crescido aceleradamente e, em alguns casos, de forma irregular.
O anúncio veio do governo no dia 26 de setembro, através de quatro órgãos, incluindo o Ministério do Comércio. O foco agora é promover um “desenvolvimento saudável” das exportações. A ideia é também evitar que guerras de preços e a falta de suporte pós-venda afetem a imagem das marcas chinesas no exterior. Vale lembrar que os híbridos e os veículos a combustão já seguem regras semelhantes.
Na prática, essa medida vai exigir que as empresas se adaptem a critérios pré-definidos, seguindo as normas estabelecidas em 2012 para exportação de automóveis e motocicletas. As inspeções alfandegárias ganharão um padrão baseado em catálogos oficiais, o que vai aumentar o controle sobre o que é enviado para fora do país.
As autoridades explicam que a nova regra visa coibir exportadores não autorizados que enviam veículos sem oferecer suporte técnico adequado. Isso gerou uma onda de reclamações e afetou bastante a percepção de qualidade das marcas chinesas, especialmente em mercados como Europa e Sudeste Asiático.
O contexto por trás disso tudo é a impressionante expansão da indústria de veículos elétricos na China. No ano passado, eles exportaram 1,65 milhão de veículos elétricos — quase o dobro do que foi registrado em 2022. Durante os primeiros oito meses de 2025, foram 1,44 milhão de unidades, correspondendo a 27% das exportações totais de automóveis. Essa velocidade de crescimento chamou a atenção do Ocidente, onde países como a Bélgica já impuseram tarifas antidumping.
Muitos especialistas apontam que a nova regra busca mudar o foco da indústria: sair do modelo de volume para um modelo de mais valor agregado. Wu Songquan, do Centro de Pesquisa de Tecnologia Automotiva, acredita que as marcas precisam se alinhar às gigantes internacionais, padronizando as exportações e garantindo qualidade, o que significa ter serviços de pós-venda bem estruturados.
Além disso, o governo aprendeu com o passado. Eles mencionam o caso das motocicletas, que perderam espaço no Sudeste Asiático devido a guerras de preços e questões de confiabilidade. Agora, a ideia é evitar que a história se repita, fortalecendo a competitividade global dos carros elétricos chineses sem depender apenas de preços baixos.
Essa mudança também pode acelerar a instalação de fábricas nos mercados estratégicos, como já acontece na Europa. Isso não só reduziria tensões comerciais, mas também facilitaria a oferta de serviços localizados, ajudando as montadoras a firmar uma presença estável fora da China.
Com essas novas regras, Pequim manda um recado claro: está disposta a manter sua liderança no setor de carros elétricos, mas com bases mais sólidas. O desafio agora vai muito além de números impressionantes nas exportações; é também sobre ganhar confiança e prestígio no mercado global.