BYD: a nova esperança sustentável enfrenta desafios no Brasil

A instalação da nova fábrica da BYD em Camaçari (BA) começou com muita expectativa, mas o que parecia ser um renascimento da indústria automotiva local está enfrentando alguns desafios. Infelizmente, a produção real deve começar somente em dezembro de 2026. Até lá, a montadora vai montar os carros parcialmente na fábrica, igualzinho ao que a Caoa Chery fez no início da sua trajetória por aqui.
O plano era começar a montagem dos primeiros veículos já no primeiro trimestre de 2024, logo após o Carnaval. Mas, com as recentes denúncias sobre condições de trabalho não aceitáveis que afetaram os trabalhadores da empresa, a expectativa foi adiada. Essas revelações trouxeram não só um atraso, mas também uma pressão sobre a imagem da BYD no Brasil.
O secretário estadual da Bahia, Augusto Vasconcelos, confirmou que, apesar dos atrasos, alguns veículos ainda devem ser produzidos este ano, mas a grande operação deve mesmo começar só em 2026.
A fábrica de Camaçari: legado da Ford e expectativa frustrada
O terreno onde a BYD se estabeleceu tem uma história rica. Ele foi, até 2021, a antiga planta da Ford. Quando a BYD anunciou sua chegada, prometeu criar até 10 mil empregos diretos e indiretos e transformar a região com a produção de modelos elétricos e híbridos. Contudo, a realidade é que, segundo o sindicato dos metalúrgicos de Camaçari, apenas 1.000 trabalhadores devem ser contratados em 2024. Isso significa que a maioria dos empregos vai depender de como a produção se desenrola nos próximos anos, que só vai ser plena em 2026.
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O que será produzido?
Quatro modelos estavam previstos para a produção local:
– Dolphin
– Dolphin Mini
– Song Plus
– Yuan Plus
Porém, algumas mudanças aconteceram, e o Yuan Plus será substituído pelo Song Pro. A produção vai começar de forma parcial, com uma capacidade instalada de até 150 mil veículos por ano. Ter essa variedade é interessante, mas vale lembrar que a realidade é distante da promessa inicial de produção em larga escala.
Trabalho análogo à escravidão: o episódio que marcou o início
A chegada da BYD no Brasil já começou marcada por controvérsias. Trabalhos forçados, jornadas exaustivas e condições precárias foram denunciados, gerando um alvoroço na mídia. Isso já era suficiente para ganhar as manchetes e trazer um impacto negativo na imagem da empresa logo de cara.
Apesar desses problemas, a BYD está tentando ajustar sua logística e espera conseguir montar algumas unidades até o final de 2024. Ainda assim, fica aquele clima de incerteza e desconfiança no ar, enquanto a marca tenta apagar as impressões ruins que surgiram desde o início.
O Brasil é prioridade (mas ainda não o destino principal da produção)
Apesar dos contratempos, o Brasil é o maior mercado da BYD fora da China. Nos primeiros meses de 2025, a montadora já vendeu mais de 30 mil veículos, ocupando a nona posição entre as marcas mais vendidas no país, superando até fabricantes tradicionais, como a Peugeot. Isso é um sinal forte de que o público brasileiro está acolhendo bem a marca, principalmente na categoria de veículos eletrificados.
Mas essa boa performance nas vendas contrasta com a lentidão e os atrasos na instalação da fábrica. Por enquanto, a montadora ainda depende de carros importados, o que limita o impacto real da industrialização e desenvolvimento tecnológico no Brasil.
Esse cenário mostra como o discurso de revitalização da indústria muitas vezes não se alinha com a realidade das fábricas em território nacional. Promessas de investimentos e empregos estão por aí, mas as concretizações ficam distantes e lentas, enquanto se enfrenta problemas estruturais e trabalhistas.
A fábrica da BYD em Camaçari pode ainda não ser o símbolo da indústria revitalizada. Por enquanto, ela reflete um momento de expectativas reajustadas e desafios em um setor automotivo que busca se reinventar.