NotíciasAutomotivo

A ‘muralha’ de R$ 30 bilhões que a China ergueu no Brasil

Por décadas, o chão de fábrica da indústria automotiva brasileira falou com sotaque americano e europeu. Gigantes como Ford, General Motors e Volkswagen reinaram absolutas, ditando as regras, os preços e os carros que enchiam nossas ruas. Era um império que parecia inabalável.

CONTINUA APÓS A PUBLICIDADE

Mas, nos últimos anos, um silêncio assustador tomou conta de algumas dessas fortalezas. A fábrica da Ford em Camaçari (BA) fechou as portas. A da Mercedes-Benz em Iracemápolis (SP) também.

O império do Ocidente dava sinais de fraqueza, deixando um vácuo de galpões vazios e um mercado carente de novidades.

CONTINUA APÓS A PUBLICIDADE

E esse vácuo não demorou a ser preenchido. Uma nova força, vinda do outro lado do mundo, chegou não com um pedido de licença, mas com um tsunami de dinheiro e uma ambição que beira o absurdo.

As montadoras chinesas, que até pouco tempo atrás eram vistas com desconfiança, iniciaram a construção de uma verdadeira “muralha” de investimentos no Brasil, que já ultrapassa os R$ 27 bilhões e caminha a passos largos para superar a marca dos R$ 30 bilhões.

CONTINUA APÓS A PUBLICIDADE

Os ‘imperadores’: BYD e GWM comprando o passado para dominar o futuro

A estratégia chinesa é ousada e simbólica. Em vez de começar do zero, os dois maiores “imperadores” dessa nova era compraram os “castelos” abandonados pelos antigos reis.

  • BYD (investimento de R$ 6,5 bilhões): A gigante dos elétricos arrematou a antiga e gigantesca fábrica da Ford na Bahia. O local está sendo transformado em um complexo que não só produzirá carros como o Dolphin e o Song Pro, mas que também terá um centro de desenvolvimento focado no motor híbrido flex.
  • GWM (investimento de R$ 10 bilhões): A Great Wall Motors seguiu o mesmo caminho e comprou a moderna fábrica que era da Mercedes-Benz em São Paulo. O plano é produzir ali toda a linha de SUVs Haval e a picape Poer, também com foco total na tecnologia híbrida flex.

Veja mais: Guerra de preços expõe divisões na indústria automotiva chinesa

Os ‘generais’ e os novatos: o exército que completa o ataque

Mas o ataque não se resume aos dois maiores. Um verdadeiro exército de outras marcas chinesas está investindo pesado para garantir sua fatia do mercado brasileiro.

  • GAC Motor: Anunciou ao presidente Lula um investimento de R$ 7,4 bilhões para produzir três carros no país, provavelmente em parceria com uma montadora já estabelecida.
  • Caoa Chery: Já parceira de longa data, está injetando R$ 3 bilhões para modernizar e ampliar sua fábrica em Anápolis (GO).
  • Omoda Jaecoo e Saic (dona da MG): Chegam com investimentos iniciais menores, na casa dos R$ 200 a R$ 300 milhões, mas já com planos concretos de produção nacional no futuro próximo.

Veja mais: A nova Shineray é a moto que te livra da autoescola

A ‘colonização’ inteligente: as parcerias que redesenham o mapa

Talvez a parte mais genial e assustadora dessa “muralha” chinesa não seja apenas o dinheiro, mas a inteligência da estratégia. Além de construir ou comprar fábricas, eles estão se infiltrando na estrutura já existente, em uma espécie de “colonização” inteligente.

  • Geely e Renault: A Geely, uma das maiores da China, não vai construir uma fábrica. Ela simplesmente vai usar a estrutura da Renault em São José dos Pinhais (PR) para produzir seus carros, em uma parceria inédita.
  • Leapmotor e Stellantis: Outra gigante chinesa, a Leapmotor, está negociando com a Stellantis (dona da Fiat, Jeep e Peugeot) para produzir seus carros elétricos em uma das fábricas do grupo no Brasil.

Essa onda de investimentos, que ainda conta com a chegada da Foton no mercado de picapes, não é apenas um movimento de mercado.

É uma virada de jogo histórica, o sinal mais claro de que a era dos antigos impérios automotivos no Brasil acabou, e uma nova e poderosa muralha chinesa está sendo erguida em seu lugar.

CONTINUA APÓS A PUBLICIDADE

Rodrigo Campos

Jornalista, pós-graduado em Comunicação e Semiótica, graduando em Letras. Já atuou como repórter, apresentador, editor e âncora em vários veículos de comunicação, além de trabalhar como redator e editor de conteúdo Web.

Artigos relacionados

Botão Voltar ao topo