Osama Bin Laden: Falta de contexto marca série American Manhunt

A série “American Manhunt: The Search for Bin Laden”, disponível na Netflix, se propõe a reconstituir os eventos do dia 11 de setembro de 2001, utilizando imagens e depoimentos que já são relativamente conhecidos.
No entanto, a trama ganha mais ritmo e emoção a partir do segundo episódio, quando a narrativa se volta para os bastidores da Casa Branca e da CIA, cobrindo os momentos iniciais após os atentados em Nova York e Washington. A história avança até 2011, quando o líder da Al-Qaeda, Osama bin Laden, é finalmente encontrado e morto.
Dirigido por Michael Ingraham, o documentário adota um formato dinâmico, com um toque de suspense e depoimentos de militares e agentes de inteligência que participaram da operação que resultou na morte de Bin Laden em seu abrigo no Paquistão. Um dos relatos mais impactantes é do soldado que deu o disparo final, conhecido entre os militares pelo codinome Geronimo.
Embora algumas cenas sejam encenadas, a maioria das imagens utilizadas é real. O terceiro episódio se destaca ao mostrar o intenso treinamento das tropas americanas para a invasão do complexo em Abbottabad. Os soldados dedicaram-se a construir e reconstruir diariamente uma réplica exata do esconderijo, ensaiando cada movimento para assegurar que nada fosse deixado ao acaso durante a verdadeira ação.
A narrativa é apresentada como um thriller, com um foco intenso na tensão dentro da Sala de Situação da Casa Branca, onde o então presidente Barack Obama e sua equipe acompanharam em tempo real os momentos decisivos da missão.
O documentário também mergulha nas emoções dos agentes e analistas envolvidos na caçada por Bin Laden, muitos dos quais são mostrados emocionados ao relembrar o trauma gerado pelos ataques de 11 de setembro e pelo luto por colegas perdidos na guerra ao terror.
Esse clima de culpa e exaustão emocional é lembrado também através da figura de Carrie Mathison, a agente da série “Homeland”, que é retratada como uma profissional atormentada por não conseguir impedir os atentados.
Entretanto, “American Manhunt” apresenta uma perspectiva quase exclusivamente americana, sem discutir de forma significativa as vítimas civis da guerra ao terror, as violações de soberania decorrentes da operação e as possíveis críticas internacionais à execução extrajudicial de Bin Laden.
O documentário evita reflexões mais profundas sobre as implicações geopolíticas do episódio, seguindo um padrão encontrado em outras produções similares que se concentram na visão militar dos Estados Unidos.
No final, “American Manhunt” entrega uma experiência de thriller documental e serve como uma lembrança dos eventos passados. No entanto, para aqueles que buscam uma análise mais contextualizada politicamente, o conteúdo pode parecer superficial e em alguns momentos, excessivamente celebratório. A última frase do documentário, pronunciada por um dos agentes da missão, resume bem o que ficou de fora: “Sabíamos que era o fim de Bin Laden, mas não da história.”