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BRICS e a estratégia nacional-imperialista de Trump

No dia 23 de maio de 2023, durante uma cerimônia na Academia Naval dos Estados Unidos, o vice-presidente J.D. Vance declarou que “a era da dominação contínua dos Estados Unidos chegou ao fim”. Essa afirmação reflete um contexto mais amplo, iniciado com a presidência de Donald Trump, onde algumas das bases que sustentavam a influência norte-americana têm sido questionadas e até desmanteladas.

Desde a administração anterior, diversas ações têm mostrado uma mudança nas políticas dos EUA, tanto no aspecto militar quanto no ideológico. Entre essas mudanças, destacam-se a diminuição do investimento em organizações como a Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN) e cortes nos repasses à USAID, que representa a suposta “ajuda americana” a países em desenvolvimento. Além disso, o governo também dificultou a permanência de estudantes estrangeiros em universidades americanas e suspendeu diversos convênios científicos e culturais.

Embora alguns interpretem essa postura como um sinal de que os EUA estão reconhecendo sua perda de hegemonia global, essa visão pode ser simplista. As ações do governo Trump não indicam um afastamento da hostilidade, mas sim a busca de uma nova estratégia que combine nacionalismo e um tipo de isolacionismo voltado para maximizar os recursos interno, enquanto se redesenha a atuação militar.

Recentemente, a administração Trump enfrentou desafios, como a guerra comercial que, apesar de estar pausa, evidencia tensões internas entre grupos que questionam a globalização liberal. Esse movimento busca readequar o apelo econômico, focando na apropriação de recursos externamente para aumentar a riqueza dentro dos EUA. A ideia de que guerras devem trazer lucros é central na visão do ex-presidente e de sua base, que não vê um grande retorno econômico na atual guerra na Ucrânia contra a Rússia, considerada uma potência menor.

Além disso, os investimentos em armamentos têm aumentado, preparando os EUA para possíveis confrontos, com a China como principal adversária. Há uma reorientação dos recursos que não só revitaliza a estratégia militar, mas também intensifica apoio a conflitos em regiões como o Oriente Médio, em alinhamento com grupos sionistas e mantendo uma política agressiva na América Latina, afetando países como México, Cuba e Venezuela.

As políticas tarifárias são uma resposta a um déficit comercial considerado prejudicial. Um grupo dentro do Partido Republicano acredita que a globalização resultou em desindustrialização, e, por isso, defende que os EUA reorientem esforços para recuperar sua indústria. Isso inclui uma visão de que a América Latina é uma extensão natural dos Estados Unidos.

Nesse novo cenário, iniciativas como os BRICS, que representam uma aliança de países emergentes, conseguem dar voz ao chamado Sul Global, buscando uma reformulação das estruturas de poder e consequências do sistema financeiro internacional. O BRICS, composto por países como Brasil, Rússia, Índia, China, África do Sul, e outros, foca na cooperação em áreas como saúde, tecnologia e infraestrutura, promovendo uma agenda integrada para enfrentar os desafios contemporâneos.

Contudo, a busca pela “desdolarização” ainda é complexa. Enquanto os países discutem a reforma do sistema financeiro internacional, já há um aumento no comércio em moedas locais, o que permite maior independência em relação ao dólar. Essa progressão é vista na atuação do Novo Banco de Desenvolvimento (NDB), que empresta em moeda local, facilitando o acesso a recursos para os países menos poderosos economicamente.

Os países que compõem os BRICS enfrentam desigualdades internas significativas, com desafios diversos em suas economias e setores sociais. Há um entendimento de que a luta contra as mudanças climáticas e desenvolvimento sustentável também deve ser uma prioridade, e a cooperação entre os países é essencial para avançar nessa direção.

O cenário político atual sugere uma tendência de maior protagonismo das nações do Sul Global, apesar das complexidades e incertezas que persistem. A formação de um mundo multipolar não garante uma nova ordem mais justa, mas oferece a esperança de que mais vozes tenham vez na arena internacional, tornando mais difícil a prevalência dos interesses de uma única nação.

Os Estados Unidos, embora questionados, ainda mantêm significativo poder e influência, apresentando desafios para os países latino-americanos e aliados. Portanto, é essencial que nações como as do BRICS continuem a fortalecer suas colaborações, resistindo à pressão americana e trabalhando em prol da autonomia e do desenvolvimento sustentável.

Editorial Noroeste

Conteúdo elaborado pela equipe do Folha do Noroeste, portal dedicado a trazer notícias e análises abrangentes do Noroeste brasileiro.

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