Costureira desafia preconceitos ao lucrar com uniformes de presídio em MS

Sandra Sampaio transforma vidas com seu ateliê no Bairro Noroeste, especializado em uniformes para detentos
Sandra Rubia Sampaio, uma costureira de 54 anos, tem dedicado sua vida à arte da costura por mais de três décadas. Há 17 anos, ela decidiu abrir um ateliê no Bairro Noroeste, em Campo Grande, perto do Complexo Penitenciário. Apesar dos preconceitos associados à região, Sandra encontrou ali a oportunidade de crescer seu negócio.
Localizado na rua Indianápolis, seu ateliê se destacou ao produzir uniformes para detentos. As roupas são compradas principalmente por mães e esposas, que buscam dar um pouco de dignidade e conforto a seus familiares encarcerados.
A trajetória de Sandra começou na Paraíba, onde, após chegar a Campo Grande, foi recebida pela tia, que a ensinou a costurar. Desde então, ela nunca mais parou. "Amo o que faço. Tenho prazer em ver uma roupa bem feita", diz Sandra, que realiza desde consertos até criações do zero.
Com seu trabalho, ela vêm sustentando sua família, composta por três filhos: Samara, de 32 anos; João Yuri, de 30; e Yasmin, de 22. Sua decisão de abrir o ateliê no Noroeste foi um passo ousado. "Aqui meu serviço é valorizado e fiz muitas amizades. Meu filho me aconselha a parar, mas quero continuar costurando enquanto puder", conta.
Recentemente, seu negócio deu um salto significativo. Após uma cliente solicitar um uniforme laranja para seu filho que está preso, Sandra viu sua clientela aumentar drasticamente. Ela começou a receber pedidos de todas as partes, inclusive do interior e até do Acre, após ser recomendada em grupos de WhatsApp de familiares de detentos.
"Em uma semana, não consegui nem almoçar de tantos pedidos que recebi", relatou. Os kits de uniformes incluem calças e casacos de moletom e são vendidos a partir de R$ 150. Com a alta demanda, Sandra enfrentou dificuldades para encontrar o tecido necessário. "Dizem que só porque estão presos, não merecem roupas de qualidade, mas sei que todos merecem", afirma.
Além dos uniformes, ela também fabrica camisetas, lençóis e cobertores. Os últimos têm feito sucesso, principalmente durante os meses mais frios, já que não é permitido entrar com cobertores grossos na penitenciária.
No seu ateliê, Sandra não apenas vende, mas também ouve as histórias de vida de suas clientes — principalmente mulheres que enfrentam a dura realidade de ter parentes presos. “Essas mulheres desabafam comigo. Às vezes, eu desligo a máquina e apenas escuto. Minha filha brinca dizendo que minha cadeira é a da psicóloga”, conta.
Ela destaca que nunca recebeu pedidos de uniformes para detentos do sexo feminino, evidenciando um aspecto do estigma que enfrenta. Sua trajetória não é apenas uma história de empreendedorismo, mas também de empatia e superação.
Sandra se formalizou como Microempreendedora Individual (MEI) e buscou qualificação no Sebrae, onde fez diversos cursos relacionados à gestão de negócios. "Aprendi que é preciso ter controle sobre as finanças e fazer investimentos inteligentes", explica.
Hoje, Mato Grosso do Sul conta com mais de 160 mil MEIs ativos, com muitas mulheres como Sandra liderando o crescimento do setor. Seu exemplo mostra que é possível superar barreiras e transformar adversidades em oportunidades. Sandra é uma prova de que a determinação e o trabalho podem criar espaços de acolhimento e dignidade, mesmo em meio a desafios.