
O observatório De Olho nos Ruralistas, em parceria com a Fase – Solidariedade e Educação, lançou nesta segunda-feira, 10, o relatório intitulado “A COP dos Lobbies”. O documento examina a crescente influência de grandes empresas brasileiras e multinacionais nas negociações e atividades da 30ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (COP30), que se inicia hoje em Belém, Pará.
Entre as empresas analisadas no relatório estão mineradoras como Vale e Hydro, o frigorífico MBRF (formado pelas empresas Marfrig e BRF), a sucroalcooleira Cosan, a fabricante de papel e celulose Suzano, além da Bayer, que produz agrotóxicos e sementes transgênicas, e os bancos Itaú e BTG Pactual.
Com 94 páginas, o relatório detalha como algumas dessas corporações, que possuem histórico de passivos ambientais, utilizam a retórica da sustentabilidade e da transição verde. Elas fazem isso por meio de ações de marketing, patrocínios a meios de comunicação e financiamento de eventos paralelos na COP, frequentemente em parceria com ministérios, estatais e o governo do Pará — instituições que têm o papel de fiscalizar suas atividades.
A divulgação do trabalho ocorrerá durante a COP30, em um ciclo de debates na Cúpula dos Povos, um evento internacional que une movimentos sociais, povos indígenas e organizações ambientais, que acontece paralelamente à agenda oficial da conferência.
Além do relatório, De Olho nos Ruralistas criou um vídeo de 24 minutos destacando os principais pontos do estudo, disponível no canal do observatório no YouTube.
### Empreendendo na COP
A pesquisa baseou-se na análise de documentos, campanhas e relatórios das empresas, além de um monitoramento de investimentos e patrocínios relacionados aos eventos preparatórios da COP30. Ela também inclui dados públicos de órgãos como o Ibama e o Tribunal Superior Eleitoral, entre outros.
Desde a primeira COP, realizada em 1995, as conferências sobre clima enfrentam um dilema entre a pressão de cientistas e ambientalistas e o lobby de corporações. Após mais de trinta anos, o evento retorna ao Brasil, de onde teve início, e agora o agronegócio e a mineração disputam ativamente espaço na agenda, organizando debates em suas próprias plataformas e com grandes orçamentos. Questões surgem: as metas de redução de emissões de CO₂ virão de espaços como a AgriZone, financiada pela Bayer, ou da Estação do Desenvolvimento, apoiada por empresas que promoveram a diminuição do licenciamento ambiental no país?
O relatório levanta a preocupação sobre a cobrança às empresas que hoje fazem promessas de reflorestamento e descarbonização, especialmente em relação aos seus passivos ambientais e ao tratamento de comunidades tradicionais, como indígenas e quilombolas. Essas comunidades, que historicamente defendem a natureza, muitas vezes são marginalizadas nas discussões, enquanto deveriam ser protagonistas ao lado de cientistas comprometidos com a ecologia.
### A Influência Empresarial na Mídia
Em outubro de 2022, os mesmos observatórios lançaram um dossiê intitulado “O agro não é verde”, que investigou como o agronegócio utiliza narrativas sobre mudanças climáticas. O novo relatório “A COP dos Lobbies” se aprofunda na atuação de oito grupos econômicos — Bayer, BTG Pactual, Cosan, Itaú Unibanco, MBRF Global Foods, Hydro, Suzano e Vale. Essas empresas foram escolhidas por sua atuação em iniciativas climáticas e por patrocinar eventos preparatórios para a COP30.
O estudo aponta que as corporações envolvidas financiam campanhas e conteúdos para se posicionarem como líderes na “transição verde”. Iniciativas como a Sustainable Business COP30, liderada por ex-executivos da Raízen/Cosan, exemplificam a institucionalização do lobby empresarial nas tratativas climáticas.
Um dado relevante é que cinco das oito empresas analisadas patrocinaram coberturas jornalísticas voltadas para a COP30. Os grupos de comunicação envolvidos incluem importantes veículos como Globo, Folha e Estadão. Isso levanta questões sobre a isenção das coberturas e a ética jornalística, especialmente quando empresas com passivos ambientais conhecidas estão por trás do financiamento.
O relatório, que destaca a necessidade de maior transparência e controle social no lobby empresarial dentro dos fóruns ambientais globais, conclui que a presença de interesses corporativos não deve ser ignorada pela sociedade.