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O bem comum e a contaminação: o experimento da Flórida

A poliomielite, também conhecida como paralisia infantil, é uma doença que pode causar sérios problemas de saúde, como dificuldades de locomoção e até a morte. Desde 1988, iniciativas globais de erradicação da pólio, apoiadas por órgãos de saúde, conseguiram prevenir cerca de 20 milhões de casos e evitar aproximadamente 1,5 milhão de mortes. Muitas das pessoas que escaparam da doença enfrentaram longas batalhas com deficiências permanentes, como dificuldades de andar, enquanto outras precisaram viver em aparelhos de respiração por toda a vida.

Um exemplo notável é Paul Alexander, que faleceu em 2024 após 72 anos de vida em um pulmão de aço. Além das sequelas físicas, sobreviventes da pólio podem enfrentar complicações em anos posteriores, como a síndrome pós-poliomielite e doenças relacionadas, como câncer decorrente de infecções virais anteriores.

A história da pandemia de gripe de 1918 também revela os riscos associados a doenças transmissíveis. Essa pandemia infectou cerca de 500 milhões de pessoas, causando pelo menos 50 milhões de mortes em todo o mundo. Somente nos Estados Unidos, cerca de 675 mil pessoas morreram, um número superior ao total de soldados que perderam a vida em combate durante a Primeira Guerra Mundial.

A experiência familiar com doenças infecciosas é um lembrete da importância das vacinas. No entanto, na Flórida, o Cirurgião Geral do estado, Joseph Ladapo, anunciou planos para remover todos os mandatos de vacinação para crianças e adultos, algo que pode representar um grave risco à saúde pública, especialmente para populações vulneráveis, como os imunocomprometidos e os idosos.

A vacinação é um tema que gerou temor ao longo da história, especialmente durante surtos de pólio, quando muitas famílias mantinham seus filhos longe de locais públicos para evitar a infecção. Um estudo da Organização Mundial da Saúde (OMS) revelou que a imunização global salvou 154 milhões de vidas nos últimos 50 anos, sendo dois terços dessas vidas de crianças.

Historicamente, a vacinação é um aspecto fundamental nos Estados Unidos. Em 1777, George Washington exigiu a vacinação contra a varíola de novos recrutas para proteger o Exército Continental. Em 1855, Massachusetts adotou a vacinação obrigatória contra a varíola, e em 1905, a Suprema Corte dos Estados Unidos confirmou a constitucionalidade das leis de vacinação obrigatória. Atualmente, todos os estados, incluindo Washington, D.C., exigem vacinas para crianças que frequentam escolas públicas.

Estudos recentes estimam que a diminuição das taxas de vacinação pode levar a um aumento significativo de casos de doenças como o sarampo. Um levantamento indicou que, se a tendência continuar, a Flórida pode ter até um milhão de novos casos de sarampo em 25 anos.

Há diversas razões apresentadas por pessoas que hesitam em vacinar. Alguns acreditam que a quantidade de vacinas pode ser excessiva ou que certos componentes são perigosos, enquanto outros sustentam a ideia de que vacinas poderiam causar autismo. Investigações científicas rejeitaram essas alegações, incluindo uma famosa pesquisa desacreditada de 1998 que tentou vincular autismo à vacina tríplice viral.

Críticos em relação à vacinação obrigatória geralmente falam sobre liberdade pessoal e crenças religiosas. A oposição muitas vezes surge da ideia de que cada pessoa deve decidir o que fazer com seu próprio corpo e o de seus filhos. Contudo, a maioria das religiões reconhece a importância da vacinação, apesar de algumas expressarem preocupações sobre certos métodos de produção.

A vacinação em massa é crucial para a saúde pública. Quando a maioria da população está vacinada, protege-se também aqueles que não podem ser imunizados por razões médicas. A falta de vacinação pode levar a surtos de doenças, como o recente surto de sarampo no Texas, que afetou principalmente comunidades não vacinadas.

A possível revogação dos mandatos de vacinação na Flórida não impactaria apenas os residentes do estado, mas também pessoas que visitam ou têm contato com habitantes locais. Um surto pode se espalhar rapidamente, como demonstrado por um surto de sarampo que afetou milhares de pessoas em diversos estados e países, resultando em mortes.

A vacinação não é apenas uma questão de proteção individual, mas uma responsabilidade coletiva. Proteger nossa comunidade significa proteger a nós mesmos e aos outros. Descontinuar os mandatos de vacinação é uma medida contrária à evidência científica, ao histórico e às normas éticas de saúde pública, podendo acarretar sérias consequências para a sociedade.

Editorial Noroeste

Conteúdo elaborado pela equipe do Folha do Noroeste, portal dedicado a trazer notícias e análises abrangentes do Noroeste brasileiro.

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