Tarifas geralmente falham e a de Trump pode seguir o mesmo caminho

O anúncio de tarifas “recíprocas” do ex-presidente dos EUA, Donald Trump, que estavam previstas para entrar em vigor hoje, foi adiado mais uma vez. O novo prazo, agora para 1º de agosto, gera incertezas para as empresas, mas também oferece mais tempo para os parceiros comerciais dos Estados Unidos planejarem acordos que possam evitar as altas taxas.
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Economistas, em sua maioria, são críticos das tarifas, já que estudos mostram que elas prejudicam os países que as impõem, afetando trabalhadores e consumidores. Embora reconheçam as dificuldades geradas pelo comércio livre, a maioria não vê tarifas elevadas como uma solução adequada.
Até o momento, as tarifas implementadas por Trump não causaram um aumento significativo na inflação americana, nem afetaram o crescimento econômico ou o nível de empregos. No entanto, alguns especialistas alertam que o impacto negativo pode ser percebido mais tarde, com a inflação e o emprego reagindo a essas medidas ao longo do tempo.
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Tarifas são impostos sobre produtos importados e geralmente resultam em aumento de custos para produtores e preços mais altos para consumidores. Cerca de 50% das importações dos EUA são de produtos intermediários, essenciais para a produção de bens finais. Isso significa que quando os negócios americanos pagam mais por componentes importados, seus custos também aumentam.
O aumento de tarifas não apenas eleva os preços de bens acabados importados mas também pode forçar as empresas a repassar esses custos aos consumidores, que não têm reservas financeiras para arcar com aumentos de até 30%.
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Historicamente, tarifas altas têm resultado em preços mais altos para os consumidores. Em uma pesquisa realizada após a implementação de tarifas sobre 283 bilhões de dólares em importações em 2018, constatou-se que as tarifas repercutiram nos preços domésticos das mercadorias.
Nos últimos 20 anos, os EUA mantiveram tarifas baixas, o que resultou em um custo relativamente baixo dos bens para os consumidores. Isso ocorre, em parte, devido ao aumento das exportações da China após sua adesão à Organização Mundial do Comércio em 2001.
Economistas alertam que as novas tarifas devem levar ao aumento adicional de preços nos EUA. O presidente do Federal Reserve, Jerome Powell, já indicou que é esperado um aumento na inflação de bens.
Além de elevar os preços, as tarifas podem também impactar negativamente a produção econômica dos Estados Unidos. Estudos revelam que tarifas têm efeitos adversos persistentes sobre o crescimento do produto interno bruto (PIB).
Um dos motivos para a queda na produção é que tarifas mais altas reduzem a capacidade do país de se concentrar em atividades econômicas onde é competitivo. Isso resulta em menor produtividade do trabalho.
Outro fator é o aumento nos custos de insumos importados. Por exemplo, um trabalhador que dependa de componentes importados pode perceber uma redução no valor que ele e sua empresa geram, devido ao aumento nos preços desses insumos.
As incertezas em relação ao futuro das tarifas também afetam a disposição das empresas para investir. Pesquisas mostram que a incerteza já está impactando os planos de investimento das pequenas empresas nos EUA.
De acordo com especialistas, tarifas mais altas tendem a resultar em um leve aumento no desemprego em um país, já que o encarecimento de produtos importados pode afetar mais os setores que utilizam insumos do que os próprios setores que produzem cargos.
Um estudo do Federal Reserve apontou que o aumento dos custos de insumos devido às tarifas nas importações entre 2018 e 2019 levou a perdas significativas de empregos na manufatura americana, com os danos exacerbados pelas tarifas retaliatórias de outros países.
Retaliações de parceiros comerciais são um risco inerente à adoção de tarifas. Ambas as autoridades e economistas reconhecem que tarifas elevadas em exportações americanas podem reduzir a demanda por produtos.
Após o anúncio das novas tarifas, os principais parceiros comerciais dos EUA rapidamente responderam com suas próprias tarifas. Contudo, os EUA conseguiram um acordo temporário com a China e a União Europeia.
Economistas concordam que, apesar dos benefícios do comércio livre, ele vem acompanhado de custos, como a perda de empregos em áreas vulneráveis à concorrência de produtos estrangeiros. Essa situação é similar ao impacto da automação no mercado de trabalho, com a redução de empregos na manufatura sendo uma tendência global.
As questões relacionadas aos trabalhadores afetados por tarifas ressaltam a importância de treinamento e requalificação adequados, para que essas pessoas não sejam deixadas para trás.
Dependência de fabricantes distantes também representa um risco, um fator que se tornou evidente durante a pandemia, quando as cadeias globais de suprimento foram afetadas, resultando em escassez de itens essenciais.
Economistas geralmente não veem as tarifas como uma solução para o fortalecimento da manufatura interna, preferindo incentivos diretos em determinadas indústrias como uma abordagem mais eficaz.
Por fim, muitos analistas destacam que o comércio livre desempenha um papel essencial na manutenção da paz entre as nações, já que relações comerciais mais próximas criam uma interdependência que pode minimizar conflitos.
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