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Por que só os brasileiros têm coragem de usar chuveiro elétrico?

Todo brasileiro conhece o ritual: entrar no banheiro, girar o registro e sentir a água quentinha e instantânea do chuveiro elétrico. É um conforto tão presente em nosso dia a dia que mal paramos para pensar nele. Contudo, e se eu te dissesse que esse aparelho, um verdadeiro ícone dos lares brasileiros, é visto pelo resto do mundo como uma “gambiarra” bizarra, perigosa e quase insana?

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A verdade chocante é que o chuveiro elétrico, do jeito que o conhecemos, é uma invenção quase que exclusivamente nossa.

Em países da Europa, nos Estados Unidos ou no Japão, a ideia de misturar um fio elétrico desencapado com água corrente dentro de uma caixa de plástico em cima da sua cabeça é motivo para pânico. E eles não estão totalmente errados.

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O nosso amado chuveiro elétrico é o resultado de uma combinação única de criatividade, necessidade e uma certa dose de “ousadia” brasileira que o tornou um sucesso por aqui, mas um monstro assustador para o resto do planeta. Mas o que, afinal, faz dele uma solução tão genial e, ao mesmo tempo, tão temida?

A física insana (mas que funciona) do nosso chuveiro

O princípio por trás do chuveiro elétrico é o chamado “Efeito Joule”. É uma física simples: uma corrente elétrica passa por uma resistência (aquele arame em espiral), que esquenta como a boca de um fogão elétrico.

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A grande “mágica” e o “pulo do gato” do modelo brasileiro é que essa resistência fica mergulhada diretamente na água. A água passa por ela, é aquecida instantaneamente e cai sobre você.

É esse contato direto que horroriza os estrangeiros. Em outros países, os sistemas de aquecimento elétrico sempre usam resistências blindadas, isoladas, que aquecem a água sem nunca tocar nela. O nosso é direto, cru e, por isso mesmo, incrivelmente barato e eficiente.

A segurança, teoricamente, é garantida por um detalhe crucial: um bom sistema de aterramento (o famoso fio terra), que desvia qualquer fuga de corrente para o chão, impedindo que você tome um choque.

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Por que o resto do mundo tem medo da nossa “gambiarra”?

A resposta é simples: normas de segurança. As regulamentações elétricas na maioria dos países desenvolvidos são extremamente rígidas e proíbem o uso de qualquer dispositivo com um elemento de aquecimento não isolado em ambientes molhados como um banheiro.

  • Risco de choque elétrico: Sem um aterramento perfeito e com a manutenção em dia, o risco de um choque fatal é real. É uma confiança que muitos países não estão dispostos a ter.
  • Potência absurda: Um chuveiro elétrico exige uma carga de energia muito alta e instantânea (entre 5.500 e 7.500 watts), o que demanda uma fiação elétrica dedicada e robusta que muitas casas antigas em outros países não possuem.
  • Alternativas culturais: Em lugares de clima frio, a cultura sempre foi a de sistemas de aquecimento central de água, seja a gás ou com grandes boilers elétricos que aquecem um tanque de água para a casa inteira. O nosso sistema de “aquecimento no ponto de uso” não faz sentido para eles.

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Por que só o Brasil abraçou essa invenção?

O chuveiro elétrico se popularizou no Brasil por uma tempestade perfeita de fatores nas décadas de 40 e 50.

  • Urbanização acelerada: As cidades cresciam rápido e as pessoas precisavam de uma solução de banho quente que fosse barata e fácil de instalar, sem a necessidade de uma infraestrutura de gás.
  • Custo baixo: O chuveiro elétrico sempre foi muito mais barato de comprar e instalar do que qualquer outro sistema de aquecimento.
  • Clima: Em um país tropical, não precisamos de água escaldante, apenas “quebrar a frieza”. Um sistema instantâneo e pontual como o nosso é mais do que suficiente.

Assim, essa “gambiarra” genial, que une risco e eficiência de uma forma que só o brasileiro entende, se tornou a rainha absoluta dos nossos banheiros, um verdadeiro patrimônio da nossa cultura de improviso e criatividade.

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Rodrigo Campos

Jornalista, pós-graduado em Comunicação e Semiótica, graduando em Letras. Já atuou como repórter, apresentador, editor e âncora em vários veículos de comunicação, além de trabalhar como redator e editor de conteúdo Web.

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