Saúde/Estilo

Nutricionista Juliana Borges alerta: os perigos do uso indiscriminado de suplementos alimentares

O uso de suplementos exige cautela. Nutricionista Juliana Borges alerta sobre riscos do consumo sem orientação.

O consumo de suplementos alimentares cresceu significativamente nos últimos anos, mas o que muitos brasileiros desconhecem são os riscos associados ao seu uso sem orientação adequada.

A nutricionista Juliana Borges, graduada pela Pontifícia Universidade Católica de Goiás, especialista em nutrição esportiva e bicampeã brasileira de fisiculturismo na categoria Wellness, alerta sobre os perigos dessa prática e a importância da individualização no uso desses produtos.

O crescimento alarmante do consumo de suplementos no Brasil

Os dados são impressionantes: o consumo de suplementos cresceu 12% apenas no primeiro semestre de 2024, com aumento de 2,1% em comparação ao mesmo período do ano anterior.

Em junho, quando comparado ao mesmo mês de 2023, o consumo do produto subiu 11,9%, de acordo com cálculos realizados pela Websetorial em boletim econômico da Associação Brasileira da Indústria de Alimentos para Fins Especiais e Congêneres (ABIAD).

“O setor de alimentos para fins especiais, incluindo suplementos, foi responsável por movimentar US$ 477,2 milhões em importações somente no primeiro semestre de 2024. Esse crescimento exponencial é preocupante quando observamos que muitas pessoas consomem esses produtos sem qualquer acompanhamento profissional”, explica a nutricionista Juliana Borges.

Estudos revelam que o fenômeno é ainda mais acentuado nas academias. Segundo pesquisa da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), 62% dos frequentadores de academias paulistanas entre 15 e 25 anos utilizam algum tipo de suplemento.

Já em Florianópolis, um estudo recente demonstrou que 59,2% dos praticantes de atividades físicas nas academias locais fazem uso de recursos ergogênicos.

Os riscos ocultos por trás da “suplementação descontrolada”

“Muitas pessoas desconhecem que a ingestão de suplementos em quantidade maior do que o corpo necessita pode acarretar sérios problemas de saúde”, alerta a nutricionista Juliana Borges.

A sobrecarga hepática e renal são apenas alguns dos riscos associados ao uso indiscriminado desses produtos.

Os perigos variam conforme o tipo de suplemento. A ingestão excessiva de vitamina A, por exemplo, pode causar toxicidade aguda, levando a sintomas como náuseas, vômitos, tontura e até mesmo danos ao fígado.

Da mesma forma, o excesso de minerais como cálcio e ferro pode resultar em problemas graves, como pedras nos rins e sobrecarga de ferro no organismo.

Juliana destaca um caso alarmante: “Temos vários minerais importantíssimos que, se usados sem acompanhamento, podem desencadear reações graves. O zinco e o magnésio, quando utilizados em excesso, podem acarretar desde diarreia e vômitos até situações mais severas, como uma parada cardiorrespiratória”.

O papel da Anvisa e as notificações de eventos adversos

Entre 2021 e 2023, foram registradas 139 notificações relacionadas a alimentos à Anvisa por meio do Notivisa, das quais 50 (36%) foram sobre suplementos alimentares, indicando uma alta proporção em comparação com outras categorias de alimentos.

No mesmo período, os suplementos alimentares corresponderam a 30% (118) dos produtos irregulares identificados pela Anvisa, de um total de 382 alimentos.

“Esses produtos não tiveram sua segurança, eficácia e qualidade avaliadas pela Agência, e/ou estavam sendo comercializados irregularmente”, explica a nutricionista. “A facilidade de acesso aos suplementos sem necessidade de prescrição médica, combinada ao alto índice de produtos irregulares ou de baixa qualidade, representa riscos significativos à saúde dos consumidores”.

Os agravos à saúde podem ser fatais

Os efeitos do uso indiscriminado de suplementos alimentares podem ser devastadores. Conforme alertado pela Anvisa, alguns produtos contêm ingredientes que não são seguros para o consumo ou substâncias com propriedades terapêuticas, que não podem ser consumidas sem acompanhamento médico.

“Os agravos à saúde humana podem englobar efeitos tóxicos, em especial no fígado, disfunções metabólicas, danos cardiovasculares, alterações do sistema nervoso e, em alguns casos, até levar à morte”, relata Juliana Borges, citando informações da própria Anvisa.

Estudos científicos também apontam para consequências como redução da densidade óssea, alterações psicológicas, aumento do ritmo cardíaco e maior aparecimento de acnes. O uso imoderado desses produtos pode ainda resultar em desidratação, alterações fisiológicas e aterosclerose.

A importância do acompanhamento profissional

“A avaliação nutricional é extremamente necessária”, enfatiza Juliana. “Além de indicar quais suplementos devem ser inseridos na dieta, o profissional especializado também orienta sobre horários, quantidades e combinações a serem feitas, já que alguns nutrientes são melhor absorvidos em jejum e outros associados com alimentos específicos”.

A nutricionista esclarece que os suplementos são indicados principalmente para atletas de ponta, com necessidades nutricionais muito elevadas, ou para pessoas que têm dificuldade em obter algumas substâncias durante as refeições, como é o caso dos vegetarianos.

“Maratonistas e triatletas, principalmente aqueles que estão se preparando para uma competição e treinam mais de uma vez por dia, podem gastar até 5 mil calorias diárias. Nesses casos, é muito difícil suprir os nutrientes perdidos apenas com a alimentação”, explica Juliana Borges.

Quem deve prescrever suplementos?

Um dado alarmante revela que 50% dos estudos concluíram que o educador físico é o profissional que mais indica o consumo de suplementos, seguido pela autossuplementação (40%). No entanto, conforme a Resolução n° 656/2020 da ANVISA, os suplementos nutricionais devem ser prescritos por um profissional devidamente capacitado: o nutricionista.

“É imprescindível ressaltar que a maioria das pessoas praticantes de atividade física não necessita de suplementação nutricional, pois o planejamento alimentar e o aumento da ingestão de líquidos já são suficientes para um resultado rápido e saudável”, afirma a nutricionista.

Recomendações para o consumo consciente

Para quem busca resultados estéticos ou performance esportiva, Juliana recomenda:

  1. Consulte um nutricionista antes de iniciar qualquer suplementação
  2. Realize exames periódicos para avaliar a saúde hepática e renal
  3. Prefira obter nutrientes através de alimentos naturais
  4. Desconfie de promessas milagrosas e resultados rápidos
  5. Verifique se o suplemento possui registro na Anvisa
  6. Esteja atento a possíveis reações adversas e interrompa o uso se necessário

Conclusão

“O forte apelo publicitário e a expectativa de resultados mais rápidos contribuem para o uso indiscriminado dessas substâncias por pessoas que desconhecem o verdadeiro risco envolvido”, reforçando que a individualização no uso de suplementos é fundamental para evitar problemas de saúde.

A nutricionista finaliza: “Minha meta como profissional é criar uma comunidade focada em prazer e bem-estar ao comer. Saúde e autoestima dependem da relação equilibrada com a alimentação, e não necessariamente do uso de suplementos. O equilíbrio é essencial para essa harmonia”.

O uso consciente e orientado de suplementos alimentares pode trazer benefícios para grupos específicos, mas é fundamental respeitar as recomendações profissionais e compreender que, para a maioria das pessoas, uma alimentação balanceada é suficiente para atingir os objetivos desejados, sejam eles estéticos ou de performance.

Editorial Noroeste

Conteúdo elaborado pela equipe do Folha do Noroeste, portal dedicado a trazer notícias e análises abrangentes do Noroeste brasileiro.

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