Notícias

Reconhecimento tardio a Lélia Gonzalez, diz professora da UnB

A Universidade de Brasília (UnB) conferiu o título de Doutora Honoris Causa à antropóloga e filósofa Lélia Gonzalez, marcando um momento histórico para a representatividade do movimento negro na academia. A cerimônia ocorreu em novembro e faz parte de um esforço contínuo do movimento negro por mais espaço e reconhecimento nas instituições de ensino superior.

Lélia Gonzalez é reconhecida como uma importante figura na luta pelos direitos da população negra no Brasil. Antes dela, a filósofa Sueli Carneiro já havia recebido o mesmo título em 2022, tornando-se a primeira mulher negra a ser homenageada dessa forma pela UnB. Na época, o Brasil vivia um momento de crescente conscientização sobre temas raciais, conforme observa a professora Renísia Garcia, da Faculdade de Educação da UnB. Segundo ela, o reconhecimento tardio de figuras femininas negras como Lélia e Sueli é um indicativo de que o conhecimento produzido por essas mulheres estava historicamente excluído das instituições acadêmicas.

Embora essas homenagens representem um avanço, ainda há muitos desafios a serem enfrentados. A falta de docentes negros na UnB é um tema preocupante. Apesar de ser a primeira universidade federal a adotar o sistema de cotas raciais, que começou há 22 anos, a presença de professores negros no corpo docente ainda é baixa. Nos últimos anos, a proporção de estudantes negros e indígenas aumentou significativamente; em 2004, apenas 4,3% dos alunos eram desses grupos, enquanto em 2019 esse número subiu para 48%. No primeiro vestibular com cotas, 388 estudantes ingressaram; em 2022, esse número saltou para 10.094.

Por outro lado, a quantidade de professores negros não acompanhou esse crescimento. A professora Renísia Garcia destaca que a falta de diversidade no corpo docente é uma contradição nas universidades e que a UnB, assim como outras instituições, precisa fazer um esforço maior para garantir essa paridade. Além disso, a ausência de autores negros nos currículos é outra questão a ser abordada, conforme apontam grupos de pesquisa dentro da universidade.

Apesar de alguns docentes trabalharem para incluir a literatura de autores negros em suas aulas, isso não é a norma em todos os cursos. A UnB afirma que as unidades acadêmicas têm autonomia para definir seus programas, mas o déficit de professores negros ainda precisa ser tratado com seriedade através de políticas afirmativas.

Outra questão importante é a permanência dos alunos cotistas. Dados do Censo Superior mostram que a taxa de evasão entre estudantes negros e pardos atinge 33%, um número preocupante. Muitos alunos da UnB vêm de áreas distantes e enfrentam dificuldades de transporte e questões financeiras. Segundo a professora Garcia, é fundamental desenvolver políticas que atendam a essas necessidades de forma ampla.

A UnB também está buscando valorizar a memória de figuras importantes do movimento negro. A professora Dione Moura, uma das pioneiras na luta pelas cotas na universidade, propôs a mudança do nome do Centro de Convivência Negra para homenagear Lélia Gonzalez. O novo nome, Centro de Convivência Negra Lélia Gonzalez, foi aprovado após consulta pública, um passo significativo para fortalecer a memória e o legado de Gonzalez na instituição.

Essas mudanças e discussões são parte de um longo caminho em busca de mais inclusão e reconhecimento da cultura afro-brasileira nas universidades, refletindo a necessidade de uma transformação mais ampla na sociedade.

Editorial Noroeste

Conteúdo elaborado pela equipe do Folha do Noroeste, portal dedicado a trazer notícias e análises abrangentes do Noroeste brasileiro.

Artigos relacionados

Botão Voltar ao topo