Cooperação entre AIEA e Irã na questão nuclear renova-se

Um acordo foi assinado no Cairo entre Rafael Grossi, chefe da Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA), e Abbas Araghchi, ministro das Relações Exteriores do Irã. Esse acordo encerra um período de incertezas sobre a colaboração entre Teerã e a AIEA, trazendo uma nova esperança em meio a meses de especulações sobre o futuro das relações nucleares entre as partes.
Grossi comemorou esse avanço como um passo importante. Essa notícia chega em um momento decisivo, pois um acordo anterior, o de Viena, que regula o programa nuclear iraniano, está prestes a expirar em pouco mais de um mês.
O novo acordo surge após várias semanas de negociações e acontece após um período em que as inspeções da AIEA foram suspensas devido a ataques a instalações nucleares do Irã realizados por Israel e Estados Unidos em junho. Esses ataques levantaram preocupações sobre a possibilidade de o Irã se afastar do Tratado de Não Proliferação de Armas Nucleares, que exige que o país permita a inspeção de suas instalações para garantir que seu programa nuclear seja de uso pacífico.
Após os bombardeios em instalações como Fordo, Isfahan e Natanz, o parlamento iraniano aprovou uma lei que restringe sua cooperação com a AIEA, aumentando as tensões entre o país e a agência internacional. Essa nova legislação reflete a deterioração gradual das relações desde que os Estados Unidos se retiraram do acordo de Viena em 2018. Esse acordo tinha como objetivo assegurar que o programa nuclear do Irã fosse utilizado para fins civis, com supervisão da AIEA, em troca da redução de sanções contra o país. O recuo dos EUA e do Irã ao longo do tempo fragilizou essa estrutura.
A gravidade da situação fez com que Grossi expressasse preocupação em relação à falta de transparência em relação ao programa nuclear iraniano. Desde 2021, a AIEA está sem acesso a certos locais, e isso gerou inquietação, especialmente considerando que o Irã tem, atualmente, mais de 400 quilos de urânio enriquecido a 60%, próximo do nível necessário para a fabricação de armas nucleares. Grossi afirmou que essa quantidade não pode ser justificada apenas para fins civis.
Além disso, a retomada das inspeções ocorre em um clima diplomático delicado. Em 28 de agosto, França, Alemanha e Reino Unido, países signatários do acordo de 2015, acionaram o Conselho de Segurança da ONU para ativar o mecanismo de “snapback”. Esse mecanismo permite restaurar sanções internacionais caso o Irã viole o acordo. A solicitação está ligada à proximidade da data de 18 de outubro, quando o acordo de Viena deve expirar. Para esses países europeus, é crucial tentar salvar o que for possível e também pressionar o Irã a reavaliar sua posição nas negociações.
O acordo assinado no Cairo estabelece procedimentos claros para acesso e supervisão de todas as instalações nucleares iranianas, incluindo aquelas atacadas, além de garantir o monitoramento do material nuclear presente. Grossi enfatizou que, apesar de sua natureza técnica, a assinatura do documento possui um significado mais profundo. Ele acredita que esse retorno às inspeções é um sinal de que é possível chegar a acordos e que o diálogo é essencial para enfrentar desafios internacionais, como o nuclear.
Ainda permanece a dúvida sobre se essa abertura será suficiente para interromper a iminente deterioração do acordo de Viena e evitar um colapso definitivo nas negociações nucleares.