Navio da BYD Traz 7.292 Carros ao Brasil Antes do Aumento dos Impostos: Entenda a Estratégia
Na manhã desta quinta-feira, 29 de maio de 2025, o porto de Itajaí, em Santa Catarina, recebeu o navio BYD Shenzhen, carregado com 7.292 veículos elétricos e híbridos da montadora chinesa BYD.

Esta é a maior carga de veículos já desembarcada no Brasil em uma única viagem, marcando a viagem inaugural do maior navio automotivo do mundo, operado pela BYD. A chegada estratégica ocorre às vésperas de um aumento significativo no imposto de importação para veículos eletrificados, previsto para entrar em vigor em julho de 2025, o que deve impactar diretamente os preços dos carros chineses no mercado brasileiro.
Contexto do Aumento de Impostos
Desde janeiro de 2024, o governo brasileiro vem implementando um aumento gradual no imposto de importação para veículos elétricos e híbridos, com o objetivo de incentivar a produção local e proteger a indústria automotiva nacional.
Atualmente, as alíquotas são de 18% para veículos 100% elétricos (BEV), 20% para híbridos plug-in (PHEV) e 25% para híbridos plenos (HEV). A partir de julho de 2025, essas taxas subirão para 25%, 28% e 30%, respectivamente, com a alíquota final de 35% prevista para julho de 2026, equiparando-se à tributação de veículos a combustão.
A BYD, líder no mercado brasileiro de veículos eletrificados, tem acelerado suas importações para aproveitar as alíquotas atuais, que são significativamente mais baixas do que as praticadas em mercados como os Estados Unidos (100%) e a União Europeia (até 48%). Essa estratégia permite à montadora nacionalizar os veículos antes do aumento tributário, evitando repassar custos adicionais aos consumidores e mantendo preços competitivos.
Impacto nos Preços dos Carros da BYD
A chegada dos 7.292 veículos, incluindo modelos populares como o Dolphin Mini, Song Pro e King, reforça o estoque da BYD no Brasil, que já ultrapassa 40 mil unidades, segundo a Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea).
Esses carros, importados com a alíquota atual de 18% para elétricos e 20% para híbridos plug-in, devem manter preços mais acessíveis em comparação com os valores que serão praticados após julho.
Por exemplo, o BYD Dolphin 2025 teve seu preço ajustado em julho de 2024, passando de R$ 149.800 para R$ 159.800 na versão GS e de R$ 179.800 para R$ 184.800 na versão Plus, devido ao aumento anterior do imposto.
O Dolphin Mini, modelo de entrada, manteve-se em R$ 115.800, mas analistas preveem que, com a alíquota de 25% em julho de 2025, modelos como esse podem sofrer reajustes de cerca de 5% a 7%, dependendo da estratégia comercial da BYD. Outros modelos, como o Yuan Plus (atualmente R$ 235.800) e o Seal (R$ 299.800), também podem ver aumentos semelhantes.
A BYD tem se beneficiado da importação em larga escala para manter preços agressivos. “Essa estratégia de estocar veículos antes do Truman aumento de impostos é comum na indústria e permite à BYD oferecer preços mais competitivos, especialmente em um mercado onde a demanda por elétricos cresce rapidamente”, explica Ricardo Bacellar, consultor automotivo.
A empresa planeja vender cerca de 100 mil veículos no Brasil em 2025, um salto significativo em relação aos 76.808 emplacados em 2024, quando foi o maior mercado da BYD fora da China.
Reação da Indústria Nacional
A chegada do BYD Shenzhen intensificou as tensões com a Anfavea, que representa as montadoras instaladas no Brasil. A associação pressiona o governo para antecipar a alíquota de 35%, argumentando que a importação massiva de veículos chineses, especialmente da BYD, ameaça a indústria nacional, que emprega mais de 1,3 milhão de pessoas.
“Nenhum país com indústria automotiva consolidada tem barreiras tão baixas para importações. O Brasil é um alvo fácil para modelos barrados em mercados com tarifas mais altas”, afirma a Anfavea. A entidade estima que a importação de 120 mil veículos chineses em 2024 gerou uma perda de R$ 6 bilhões em arrecadação devido às alíquotas reduzidas.
A BYD, por sua vez, defende que suas importações atendem à crescente demanda por veículos eletrificados e que está comprometida com a reindustrialização do setor. A empresa investiu R$ 5,5 bilhões em uma fábrica em Camaçari, Bahia, com previsão de iniciar a produção no segundo semestre de 2025, embora atrasos tenham gerado críticas da Anfavea.
“Enquanto preparamos a produção local, essas importações garantem que os consumidores tenham acesso a tecnologias verdes com agilidade”, afirmou a BYD em comunicado.
Perspectivas para o Consumidor
Para os consumidores, a chegada desses 7.292 veículos representa uma oportunidade de adquirir carros elétricos e híbridos a preços mais baixos antes do aumento de julho. Modelos como o Dolphin Mini e o Song Pro devem continuar competitivos nos próximos meses, mas especialistas alertam que os estoques podem se esgotar rapidamente devido à alta demanda.
“Os consumidores que comprarem agora podem economizar significativamente, já que o aumento de 7% a 10% no imposto deve ser repassado aos preços”, diz Bacellar.
No entanto, a pressão da Anfavea e as negociações da BYD para reduzir impostos sobre kits de peças importadas (de 20% para 10%) sugerem que a montadora busca manter sua competitividade mesmo após o aumento das alíquotas.
A produção local em Camaçari pode, a longo prazo, estabilizar os preços, mas, até lá, o mercado brasileiro deve continuar sendo um campo de batalha entre a inovação trazida pelas marcas chinesas e os interesses da indústria nacional.
Conclusão
A chegada do navio BYD Shenzhen com 7.292 veículos marca um momento crucial para o mercado automotivo brasileiro. A BYD aproveita as alíquotas atuais para reforçar seu estoque e manter preços acessíveis, mas o aumento iminente dos impostos deve elevar os custos para os consumidores a partir de julho.
Enquanto a Anfavea pressiona por proteção à indústria nacional, a estratégia da BYD destaca a crescente influência dos fabricantes chineses no Brasil, que se tornou o maior mercado da empresa fora da China.
Para os consumidores, o momento é de aproveitar os preços atuais, enquanto o setor automotivo aguarda os próximos capítulos dessa disputa tributária e comercial.