Polilaminina: remédio brasileiro ajuda a regenerar medula

Cientistas brasileiros estão dando um passo importante na medicina com a descoberta de uma proteína extraída da placenta que pode ajudar na regeneração da medula espinhal em pessoas que sofreram lesões graves, resultando na perda de movimentos. Essa pesquisa, liderada pela professora e doutora Tatiana Coelho de Sampaio, da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), já dura 25 anos e foca na proteína laminina, que tem propriedades regenerativas no sistema nervoso.
Recentemente, o laboratório Cristália anunciou o desenvolvimento de um novo medicamento chamado polilaminina, que se mostrou promissor para a regeneração da medula espinhal. O medicamento é voltado para pacientes que sofreram rompimentos da medula em acidentes, levando a condições como paraplegia, que é a paralisia das pernas, e tetraplegia, que afeta tanto as pernas quanto os braços.
Durante os testes iniciais, alguns pacientes que receberam a polilaminina apresentaram melhora significativa em suas condições, recuperando-se totalmente e retomando atividades normais. O laboratório está aguardando a autorização da Anvisa, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária, para expandir os estudos clínicos do medicamento. O pedido à Anvisa inclui etapas que ainda precisam ser completadas, como a apresentação de dados complementares dos estudos não realizados em humanos.
A Anvisa informou que os dados até agora não são suficientes para aprovação para testes em seres humanos, o que é parte do processo regulatório típico. Além disso, a agência ressaltou que mesmo com resultados promissores, ainda não é possível confirmar a segurança e eficácia da substância.
A polilaminina age estimulando neurônios que já não se desenvolviam mais, permitindo que eles regenerem novas conexões necessárias para a transmissão de impulsos elétricos pelo corpo. Durante uma apresentação do novo fármaco, dois dos oito voluntários que participaram do estudo clínico, que foi aprovado por órgãos éticos, compartilharam suas experiências.
Um dos voluntários, Hawanna Cruz Ribeiro, atleta paralímpica de rugby, ficou tetraplégica após um acidente em 2017. Após receber a polilaminina, ela relatou que recuperou entre 60% e 70% do controle do tronco e notou melhorias na sensibilidade. Outro voluntário, Bruno Drummond de Freitas, também teve uma experiência positiva, recuperando-se completamente após receber a polilaminina um dia após um acidente de trânsito.
Os testes em animais, como cães e ratos, também mostraram resultados animadores, com recuperação completa em casos de lesões não provocadas. A produção do medicamento utiliza placenta doada por mulheres saudáveis, que são acompanhadas durante a gestação.
Especialistas consideram a pesquisa promissora, mas pedem cautela, principalmente para garantir que os resultados não sejam superestimados. Embora o medicamento já tenha sido patenteado, o processo de disponibilidade ao público pode ainda levar anos. A pesquisa científica relacionada à polilaminina ainda não foi divulgada para proteger a inovação do método.
Com relação às lesões medulares, é importante disponibilizar um entendimento claro sobre as diferenças entre paraplegia e tetraplegia. Paraplegia refere-se à incapacidade de mover as pernas, enquanto a tetraplegia envolve perda de movimento em todos os quatro membros. Ambas as condições podem ser causadas por diversos fatores, incluindo acidentes, tumores, fraturas na coluna e doenças inflamatórias.
Os hospitais em São Paulo, como o Hospital das Clínicas e a Santa Casa, já estão se preparando para administrar a polilaminina assim que receberem autorização da Anvisa. No entanto, inicialmente, o tratamento será oferecido apenas a pacientes com lesões recentes na medula. Os pesquisadores afirmaram que, até o momento, a polilaminina não causou efeitos colaterais, e novas pesquisas seguirão após a aprovação oficial do medicamento.